ARTIGO 7


A RUA, A CASA E A ESCOLA: A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE DE MENINOS E MENINAS THE STREET, THE HOME AND THE SCHOOL: GIRLS AND BOYS IDENTITIES CONSTRUCTION

Neuza Maria de Fátima Guareschi*
Fernanda Pacheco de Oliveira**
Letícia Goldenberg Giannechini**
Luciele Nardi Communello**
Milena Nardini**
Milena Leal Pacheco**

RESUMO

Objetiva-se, aqui, discutir os sentidos que meninos e meninas produzem em relação aos espaços da casa, da rua e da escola. Considerando as condições sociais, econômicas e culturais do lugar onde vivem, procurou-se compreender como produzem os sentidos que passam a construir suas identidades de gênero, sexo, raça e classe social. Realizaram-se grupos de discussão e entrevistas individuais com estudantes de uma escola municipal da zona leste de Porto Alegre (RS). A compreensão da Produção de Sentidos foi realizada a partir dos pressupostos teórico-metodológicos do Construcionismo Social. A rua é associada a marginalidade, perigo e violência, gerando um constante medo de serem confundidos com bandidos. Já a escola representa, junto com a casa, um lugar onde eles podem ter segurança e educação e que podem proporcionar uma oportunidade de mudança de vida e mobilidade social. A casa também é compreendida como um lugar estressante, triste e problemático.

PALAVRAS-CHAVE
Produção de sentidos; identidades/diferenças; cotidiano na favela.

A RUA, A CASA E A ESCOLA:
A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES DE MENINOS E MENINAS

Este artigo apresenta-se como parte de uma pesquisa maior, que teve como objetivo investigar o processo de construção das identidades de meninos e meninas entre 15 e 18 anos, de uma 5ª e uma 8ª série do Ensino Fundamental de uma escola municipal da zona leste de Porto Alegre, localizada em uma favela. Considerando as condições sociais, econômicas, culturais e políticas de exclusão, procurou-se compreender como que meninos e meninas constroem, reconstroem e resistem a diferentes imposições de sentido em seu cotidiano.

Entende-se que esse processo se dá nos espaços da família, da escola, da rua e da comunidade onde vivem, entre outros, nos quais meninos e meninas são constantemente atravessados por questões ligadas à pobreza, à violência e ao trabalho. Através das relações de gênero, raça, classe social e sexo, buscou-se compreender não apenas a construção dessas identidades, mas também a luta que esses meninos e essas meninas travam em busca do reconhecimento das mesmas, por vezes discriminadas e marginalizadas. Essa luta pode ser entendida como a busca de possibilidades de transformação de sentidos hegemônicos.

Nesse estudo, que se ancora nas Políticas de Identidade(1), as discussões dos temas trazidos pelos estudantes se deram em 6 grupos e 16 entrevistas individuais. Essas questões demonstram o quanto esses jovens são interpelados por sentidos construídos em seu cotidiano, que se intercruzam constantemente no processo de construção das identidades e produção de subjetividades. Para a compreensão desses temas, foram utilizados aspectos teórico-metodológicos, tanto dos Estudos Culturais quanto do Construcionismo Social, uma vez que estes campos de estudo reconhecem a capacidade dos sujeitos sociais de manifestar diferentes práticas simbólicas, situadas em um determinado contexto histórico. Para isso, é necessário deslocar a idéia de cultura do âmbito da reprodução para uma posição onde a ação social é considerada de suma importância, visto que o poder é compreendido como força constitutiva de todo o tecido social, ação sobre outras ações possíveis. Por esta razão, o objeto de estudo da perspectiva dos Estudos Culturais e do Construcionismo Social se concentra no espaço popular das práticas da vida cotidiana, relacionando-as com as relações de poder, as lutas políticas e a construção de identidades.

ESTUDOS CULTURAIS E POLÍTICAS DE IDENTIDADE:
A COMPREENSÃO DAS DIFERENÇAS

Esse trabalho tem seu suporte teórico-epistemológico fundamentado no debate que estamos realizando entre a compreensão de alguns autores (Hall, 1990; Silva, 2000), do campo dos Estudos Culturais, sobre identidades e diferença e de como a Psicologia Social pode rediscutir suas formulações teóricas em relação a esse tema.

A partir dessa perspectiva, a extensão do significado de cultura de textos e representações para práticas vividas coloca em foco a produção de sentido, que se funda a partir do paradigma do Construcionismo Social. O Construcionismo Social, que traz a importância de uma epistemologia que tem a formação discursiva e o processo de significação como principais pressupostos, propõe a constatação de que a representação é da ordem dos sentidos que o sujeito atribui, tanto no seu âmbito consciente como no inconsciente, ao seu contexto social e cultural. Busca-se inquirir o que os sujeitos dizem, pensam e atuam sobre os sentidos que constituem o mundo, e, de modos diversos, o próprio sujeito. Dentro desse viés, os discursos, as relações de poder e o contexto histórico na construção das identidades sociais e culturais são considerados fatores essenciais para a compreensão das práticas sociais e culturais.

Para Silva (1999, p.36), a idéia de “construção social” tem funcionado como um conceito unificador dos Estudos Culturais. Este campo de estudo nos lembra que os sentidos que o mundo cultural e social estabelece de forma hegemônica, através da interação social, acabam sendo percebidos como naturalizados, mascarando a origem e a complexidade desse processo. Como nas demais disciplinas, esse também é o propósito da Psicologia Social: expor o processo de construção social.

De acordo com os Estudos Culturais, a produção de sujeitos, a partir de diferentes práticas simbólicas, está sempre situada em um determinado tempo-espaço. Os Estudos Culturais se utilizam de todos os campos que forem necessários para produzirem o conhecimento exigido por um projeto particular. Por isso, Johnson (1986) define essa escola como uma alquimia para produzir conhecimento útil sobre a cultura humana. Das teorias das últimas épocas tem se aproveitado desde o marxismo e o feminismo até a psicanálise, o pós-estruturalismo e o pós-modernismo.

Esta característica particular dos Estudos Culturais, ou seja, o caráter interdisciplinar, faz com que a sua metodologia seja ambígua. Definida como uma bricolage, a metodologia, no campo dos Estudos Culturais, enfoca o objeto estudado a partir de diversos procedimentos metodológicos. Assim também a postura do/a pesquisador/a, chamado/a de pesquisador-bricoleur, é caracterizada pelo uso de um referencial teórico de análise e compreensão do seu objeto de estudos a partir de diferentes disciplinas, requerendo do pesquisador uma destreza por se utilizar de vários referenciais teóricos e metodológicos.

Segundo Meyer (1999), Stuart Hall enfatiza que, no contexto dos Estudos Culturais, o referencial pós-estruturalista de Foucault e Derrida tem dado grande contribuição na questão metodológica, o que permite analisar como os seres humanos compreendem a si mesmos dentro da cultura e como o conhecimento acerca do social, do indivíduo corporificado e dos significados que estes compartilham em grupos/comunidades específicas é produzido nos diferentes momentos históricos.

Uma abordagem que, mesmo pressupondo a produção discursiva do social e dos sujeitos, não implica a negação da existência material de pessoas, coisas e eventos, mas que sustenta que elas não têm, em si, significados fixos, uma vez que elas significam e se tornam verdadeiras somente dentro, ou pela articulação, de determinados discursos enraizados em contextos particulares e localizados. É o discurso, e não o sujeito ou a instituição social que o assumem, que produz conhecimento. Estes (sujeitos e/ou instituições) podem estar produzindo textos particulares, mas estão operando dentro dos regimes de verdade de um período e cultura particulares. (Meyer, 1999, p.59)


Nelson et al. (1995) afirmam que, apesar de os Estudos Culturais rejeitarem uma espécie de definição, podemos nos arriscar em oferecer uma que seja muito geral e genérica. Isto ajudaria a mapear a diversidade de posições e tradições que podem, legitimamente, reivindicar seu nome. Para o autor, esta escola se constitui de um campo interdisciplinar, transdisciplinar e algumas vezes contra-disciplinar que atua na tensão entre suas tendências para abranger tanto uma concepção ampla e antropológica de cultura, quanto uma concepção estreitamente humanística desta.

A cultura constitui um dos conceitos mais importantes para os Estudos Culturais. Esta é entendida tanto como uma forma de vida (idéias, atitudes, linguagens, práticas, instituições e estruturas de poder) quanto toda uma gama de práticas culturais (formas, textos, cânones, arquitetura, mercadorias produzidas em massa). Nas palavras de Hall, a cultura significa “o terreno real, sólido, das práticas, representações, línguas e costumes de qualquer sociedade histórica específica”, como também, “as formas contraditórias de ‘senso comum’ que se enraizaram na vida popular e ajudaram a moldá-la” (Hall, 1986, p.26).

Hall (1980) afirma que dois passos estão envolvidos na nova formulação do sentido de cultura, considerado um dos grandes avanços dos Estudos Culturais. O primeiro é um movimento em direção a uma definição antropológica de cultura, como prática cultural. O segundo vai em direção a uma definição mais histórica de prática cultural, questionando o significado antropológico enquanto universalidade que se instala por meio dos conceitos de formação social, poder cultural, dominação e regulação, resistência e luta.

A partir dessa perspectiva, a extensão do significado de cultura de textos e representações para práticas vividas coloca em foco a produção de sentido, que se funda a partir do paradigma do Construcionismo Social. Dentro desse viés, os discursos, as relações de poder e o contexto histórico na construção das identidades sociais e culturais são considerados fatores essenciais.

Nesse processo de construção das identidades, explicita-se a produção das mesmas pela diferença: demonstra-se que discriminação não é o resultado da diferença, mas que a diferença é o resultado da discriminação, no momento em que fixa determinadas significações. Desta forma, o processo de construção das identidades sempre se refere a um “outro”, ou seja, “eu sou algo a partir daquilo que eu não sou”, ou “eu não sou o que o outro é”. As pessoas constroem suas identidades a partir das diferenças do que “eles e elas não são” e do que “eles e elas não possuem” (Hall, 2000; Silva, 2000).

As Políticas de Identidade são um modo de compreender ações coletivas e individualizadas de uma forma que problematize as experiências de vida das pessoas socialmente excluídas, buscando reconhecer a produção de sentidos e, decorrente disso, a construção das identidades como um processo lingüístico, cultural e social. As políticas de identidades procuram também compreender a complexidade e as contradições da produção dos estatutos identitários e, por conta disso, dos processos de subjetivação.

Na Psicologia Social, a concepção de Políticas de Identidade, como efeito dos movimento sociais, vem contribuir no sentido de que se modifique a noção de identidade como interesses e atributos das pessoas, ou seja, de “quem sou eu”, para a noção: “eu ajo por causa de quem eu penso ser” ou: “a ação diz quem eu sou” (Guareschi, 1999; 2000).

As identidades, construídas através das relações de classe, sexo, gênero, raça e etnia, se processam através de diferentes atravessamentos, o que implica dizer que as identidades são históricas, fluidas e não fixas. Dessa forma, eles e elas produzem diferentes sentidos em diferentes momentos e contextos, que podem ser entendidos como formas de resistência e/ou tentativas de transformação de práticas hegemônicas.

As Políticas de Identidade abordam uma perspectiva importante não só em relação às condições de opressão das pessoas, mas principalmente em relação à compreensão da produção de novos sentidos, a partir das interpelações discursivas. Dentro desse enfoque, as questões teóricas sobre discurso têm uma dimensão importante para a compreensão dos grupos sociais e suas intersecções na construção de identidades como modos de resistência à imposição de determinados sentidos cultural e socialmente produzidos. Essa construção se dá em espaços como o da escola, da família e de outras instituições, considerados como locais que fabricam identidades constituídas pela relação discursos/materialidades das experiências de vida.

Assim, é a articulação de significados que os sujeitos fazem entre a cultura, a história, as práticas e experiências no cotidiano que oferece um modo de compreender a perspectiva da pesquisa dentro dos estudos culturais. Essa perspectiva em pesquisa apresenta dois objetivos principais: primeiro, insistir que todas as relações sociais são influenciadas por relações de poder que devem ser entendidas mediante análise das interpretações que as pessoas fazem das suas próprias situações. Segundo, que toda investigação se baseia em uma perspectiva teórica interdisciplinar, ou transdisciplinar em relação ao comportamento humano e social. Deste modo, não é possível desenvolver o processo de análise de forma indutiva; todo processo de compreensão do pesquisador em relação ao objeto de estudo demonstra as convicções teóricas e políticas do pesquisador, continuamente transformadas pelas experiências vividas pelos sujeitos que investiga.

A PESQUISA: ALGUMAS NOTAS METODOLÓGICAS

CONTEXTO DA PESQUISA
Para que a comunidade onde os sujeitos desta pesquisa residem pudesse ser mais bem carcterizada, buscou-se uma compreensão de seu contexto por meio de entrevistas com professores e moradores, bem como de observações realizadas no local.

A escola, na qual as entrevistas e discussões de grupo foram realizadas, interage com a comunidade através dos programas escolares, pedagógicos e administrativos, bem como da realização de festas comunitárias, que são discutidas e decididas com a população da vila. Através do número de séries que tendem a decrescer à medida que os estudantes ficam mais adiantados, podemos perceber a questão do fracasso e a evasão escolar. Desse modo, se acompanharmos o processo de nove tumas do início da primeira série até o final do Ensino Fundamental, perceberemos que, na oitava série, restou somente uma turma. Esse processo é recorrente, ou seja, todos os anos iniciam várias turmas de primeira série e somente poucos estudantes concluem o Ensino Fundamental. A maioria dos alunos entre a quinta e a oitava séries situa-se em uma faixa etária entre 15 e 18 anos, época em que acontece o maior número de reprovações e evasões. A maioria dos participantes desta pesquisa possui, pelo menos, uma reprovação.

Considerando os modos de vida na e da favela, procuramos entender o que significa, para estes jovens, viver na pobreza e em um lugar onde ocorrem diferentes tipos de violência e muitos outros perigos. Tentamos compreender os diferentes sentidos produzidos nesse contexto que interpelam a construção das identidades dos indivíduos que habitam esses espaços e, tanto na comunidade como fora dela, empreendem esforços contínuos para não se tornarem marginais. Ao mesmo tempo, também mostram diferentes estratégias no sentido de tornarem ou não suas vidas diferentes quando, por exemplo, valorizam o fato de estarem na escola e serem trabalhadores como o oposto de ser um malandro, um traficante ou marginal, “que fica nas ruas todo o tempo”.

Para estudar as diferentes dinâmicas que fazem parte do processo de construção das identidades, é necessário lançar o olhar para além desta realidade, ou seja, para compreender outras culturas, é necessário não apenas escutar e observar, mas principalmente ir para espaços que não são dominados por discursos acadêmicos. Assim, uma das características das pesquisas situadas no campo dos Estudos Culturais é o abandono de posturas etnocêntricas e a compreensão de tudo em seu contexto. Os contextos existem como campos de cultura que produzem significados específicos para aqueles que os criam, transformam e neles vivem. A comunidade que descreveremos representa um destes contextos. Seu complexo contexto social está cercado por estruturas geográficas específicas, práticas históricas e culturais e problemas econômicos e políticos.

Os sentidos de viver em uma favela podem ser compreendidos, algumas vezes, como viver excluído da sociedade e não considerar a si mesmo um cidadão. É considerado o oposto de viver em edifícios, casas boas, e bairros “limpos”. Assim, ser um favelado pode ter um significado negativo e pejorativo que indica morar em lugares sujos, em que faltam estruturas materiais adequadas, e não possuir qualificações especiais para o trabalho, ou mesmo uma boa aparência pessoal. Os Estudos Culturais vão ocupar-se de problematizar os hibridismos produzidos em torno das fixações das identidades e diferenças, em que apenas um dos modos de vida é privilegiado.

A comunidade pesquisada começou a ser formada em meados da década de 70 e, como a maioria das vilas de Porto Alegre, é resultado do êxodo rural. Em função das situações precárias nas quais as pessoas chegaram da zona rural à favela, os espaços que tiveram para estabelecer suas casas eram pequenos. Em geral, essas casas foram construídas com materiais frágeis, tornando-se moradias bastante precárias. Embora a procura por trabalho e a busca por uma vida melhor fossem as razões principais pelas quais as famílias dos e das estudantes deixaram a zona rural, outros motivos também determinaram o movimento de suas famílias das áreas rurais para as favelas.

Diferentes configurações familiares fizeram com que, freqüentemente, os homens viessem primeiro e sozinhos para as cidades grandes para procurar outro lugar para viver e trabalhar. Esta situação fez com que, mais tarde, muitas mulheres viessem com suas crianças a viver nas favelas, constituindo novas famílias em condições econômicas ruins.

Nesta comunidade, a maioria das casas tem entre dois ou três quartos. Vivem nelas aproximadamente cinco pessoas. Porém, existem famílias cujas casas têm só um quarto, e em algumas delas residem até oito pessoas. A idade das pessoas desta comunidade é particularmente jovem; dificilmente encontram-se pessoas com mais de 70 anos.

Embora existam algumas ruas oficiais no bairro, alguns dos acessos a essas vilas ainda são ruelas ou pistas nas quais não passam carros, somente carroças. Em algumas delas as pessoas só podem caminhar. Isto dificulta as condições de saúde e bem-estar das pessoas, que, muitas vezes, não têm acesso a eletricidade, água corrente e sistema de esgoto. Essa também é a razão de algumas das pessoas dessas vilas não possuírem um endereço oficial. Por outro lado, o fato de não ter ruas e endereços acessíveis é uma das razões que faz algumas pessoas escolherem viver nesta comunidade. Para elas, vilas como essas passam a ser lugares seguros para fugir ou se esconder de credores, da justiça ou da polícia. Além disso, parece existir um acordo entre as pessoas que lá residem: dificilmente relatam qualquer coisa a outras pessoas sobre o que sabem ou vêem, principalmente se for para a polícia ou estranhos.

A maioria dos habitantes dessa favela presta algum tipo de serviço. Entretanto, poucos possuem um trabalho mais estável ou assegurado pela legislação trabalhista. Algumas mulheres trabalham como serventes em empresas. A maioria, porém, trabalha como empregada doméstica ou faxineira diarista. Os homens dessa vila trabalham, na sua maioria, na construção civil, sendo esse um trabalho não fixo e pago a cada atividade executada. Poucos homens trabalham em fábricas ou no comércio com registro na carteira de trabalho e com pagamento mensal. Alguns homens possuem uma carroça puxada a cavalo, que utilizam para vender frutas e legumes, ou para recolher lixo reciclável nas ruas da cidade. É comum, nestes casos, os homens estarem acompanhados de crianças e adolescentes que os auxiliam neste tipo de trabalho.

PARTICIPANTES

Participaram dessa pesquisa 16 jovens, sendo 8 meninas e 8 meninos, entre 15 e 18 anos, que nasceram e sempre viveram nesta comunidade, com exceção de um dos meninos. Os alunos freqüentam a escola pelo turno da manhã. À tarde, geralmente, as meninas permanecem em casa fazendo trabalhos domésticos ou tomando conta dos irmãos. Os meninos, por sua vez, auxiliam na renda familiar executando algum tipo de trabalho ou ficam pela rua jogando bola ou conversando com amigos. A maioria dos participantes reside com as mães e com irmãos, em alguns casos, com avós e com os pais.

MÉTODO DE PESQUISA E DE ANÁLISE

Foram realizadas 16 entrevistas individuais e 6 grupos de discussão, entre os quais 2 grupos mistos da 8ª série e 2 da 5ª série, um grupo somente com meninas e outro somente com meninos. Os grupos foram semanais e tiveram duração aproximada de 1 hora e 30 minutos. Os grupos iniciavam discutindo seu dia-a-dia na escola e, quando este assunto parecia esgotar-se, eram colocadas questões sobre o cotidiano de sua vida na favela. Procurou-se explorar todas as formas de interações sociais que os alunos e alunas estabeleciam na comunidade. Nas entrevistas procurou-se aprofundar questões específicas que surgiram nos grupos no que diziam respeito aos aspectos de gênero, raça, sexualidade, classe social, violência, pobreza, trabalho, lazer, nas interações nos espaços da casa, da rua e da escola.

A metodologia utilizada para realização desta pesquisa é a proposta pelo Construcionismo Social. Esta metodologia pode ser considerada como resultante de três movimentos: na Filosofia, como reação ao representacionismo; na sociologia do conhecimento, como uma desconstrução da retórica da verdade, e na Política, como busca, através da educação de grupos sociais ditos subordinados, de adquirirem meios de fortalecimento para fazer frente aos discursos hegemônicos (Spink; Frezza, 1999).

O processo de análise dentro do Construcionismo Social se propõe a compreender os sentidos produzidos pelos sujeitos. Em nossa pesquisa, procuramos entender como são estabelecidas as práticas discursivas que emergem da produção dos sentidos de meninos e meninas sobre seu cotidiano, oportunizando, a partir disso, a construção de um novo conhecimento.

Assim, após a transcrição dos grupos e das entrevistas, em um primeiro momento, procuramos “deixar aflorar os sentidos, sem encapsular os dados em categorias, classificações ou tematizações definidas a priori” (Spink; Frezza, 1999, p.106). Os quadros/mapas foram elaborados para propiciar a visualização dos sentidos produzidos por eles e elas, dos quais emergiram as temáticas discutidas sobre a casa a rua e a escola.

O COTIDIANO NA FAVELA: A CASA, A RUA E A ESCOLA

Ao longo das discussões realizadas nessa pesquisa, questões importantes foram trazidas pelos jovens. Estas questões dizem respeito à importância que as interações sociais constituídas nos espaços da escola, da casa e da rua têm em suas vidas.

Para os pesquisados, a casa possui significações diferentes, pois mesmo sendo entendida como um lugar estressante e problemático, é mencionada como fundamental para que aprendam comportamentos e valores sociais e morais aceitos pela sociedade, além de ser um espaço afetivo. O espaço privado é experimentado como um lugar que possibilita inclusão e identificação com os valores socialmente fixados a ela. Isto pode ser exemplificado quando um menino comenta sobre a importância do espaço da casa e, ao mesmo tempo, diz:

Aqui as pessoas não têm esperança de uma vida melhor; a maioria delas não consegue dinheiro suficiente e tem dois ou três filhos em casa. Elas tentam juntar dinheiro para construir uma casa pequena, mas um pouco melhor. Eu acho que as pessoas estão tentando mudar trabalhando e educando seus filhos melhor, porque aí não acabam usando drogas ou roubando. As mães devem educar seus filhos, para eles não fazerem isso. (menino 1)

Ou seja, os discursos produzidos estão relacionalmente ancorados na luta pela imposição de sentidos relativos à educação e ao trabalho como formas de vida que incluem, que cidadanizam.

Aparecem contradições como quando reclamam das exigências de suas mães para que façam trabalhos em casa, e, ao mesmo tempo, dizem que aqueles que permanecem em casa trabalhando evitam estar na rua e se tornarem marginais. Enquanto é exigido aos meninos que, em casa, limpem os jardins ou vão ao supermercado, as meninas limpam a casa, ajudam suas mães a cozinhar ou cuidam dos irmãos mais jovens. Desta forma, apropriam-se de discursos, afirmando identidades e enunciando diferenças, o que traduz a necessidade criada de garantir o acesso aos bens sociais.

Aparecem também reclamações a respeito da maneira como suas mães lidam com suas atividades escolares, mantendo-os ocupados todo o dia com a lição de casa e o serviço doméstico. O modo que suas mães usam para orientá-los é entendido pelos jovens como falta de incentivo e confiança. Ainda, o fato de algumas mães receberem reclamações formais da escola a respeito de seus filhos e filhas sobre a falta de submissão às normas da escola ou a não realização das tarefas propostas faz com que estas temam que eles parem de estudar, tornando-as mais severas em algumas condutas: “eu acho que desde que existe falta de dinheiro aqui na vila, as mães ficam mais facilmente nervosas (...).”

A mudança de conduta dos pais provoca uma preocupação nos estudantes em relação aos conflitos de suas casas, o que faz com que tentem mudar seus comportamentos, de modo a não desapontar os pais. Ou seja, são subjetividades que enunciam os efeitos dos discursos de oposições binárias pelos quais esses jovens são atravessados, ao passo que resistem alguns discursos quando não se submetem ou não realizam determinadas tarefas.

Em relação ao cuidado com a casa, há uma associação entre limpeza, organização e valores sociais, morais e emocionais. Ou seja, uma casa boa e limpa e uma vizinhança que não deixa lixo nas ruas denota uma aproximação com bairros fora da favela, como os bairros de camadas médias, estão relacionalmente colocados por aquilo que não se é, mas que pode vir a ser. Sendo assim, este cuidado com a casa também pode projetá-los para um espaço mais “urbano”, diminuindo a sua desigualdade social em relação àqueles que vivem em lugares melhores da cidade e àqueles que são mais educados, têm mais oportunidades no mercado de trabalho e ganham mais dinheiro. Em contraste, uma casa pobre e suja é associada com a periferia, onde existem serviços básicos precários, desemprego, maus tratos, fome e pessoas mal educadas. Essa dicotomia sujo/limpo parece ser fundamental para distinguir entre aquilo que pode levar as famílias à prosperidade, à integridade e à decência, e aquilo que pode indicar imoralidade, miséria e pobreza, bem como problemas estruturais, sociais e emocionais (Da Matta, 1995). Ao se ocuparem dos binarismos socialmente produzidos, tais como estes apontados anteriormente, os Estudos Culturais se propõem a assinalar que são produções de sentido, forjados em relações de poder que atravessam o cotidiano dessas pessoas e as tornam ou os sujos/excluídos, ou os limpos/incluídos.

O material com que as casas são construídas na favela também diferencia as pessoas que ali moram. As casas de alvenaria são mais valorizadas do que feitas de madeira e indicam tanto melhores condições de vida de quem ali mora, como um sinal de mudança e progresso da vila. Assim, quem mora em casas de alvenaria é considerado trabalhador e honesto, bem como demonstra interesse em mudar de vida.

A boa aparência da casa está relacionada à reciclagem do lixo, ao cuidado do jardim e ao cultivo de plantas. Para os jovens, uma casa bem cuidada indica que as pessoas são boas, decentes e trabalham para mudar suas vidas e a favela, na tentativa de transformá-la em um bairro de camada média, onde as pessoas são consideradas honestas, decentes e bem-sucedidas. Este cuidado também denota uma preocupação com a preservação da saúde e do lugar onde vivem, indicando uma família organizada, com uma mãe dedicada aos filhos e filhas, bem como às tarefas domésticas, como, por exemplo, o cuidado com as roupas, comida, saúde, educação e o bom comportamento das crianças.

Já a falta de cuidado com a casa pode indicar, para estes jovens, uma família menos organizada, uma mãe menos preocupada com os filhos, e que as pessoas que nela moram têm pouca esperança de mudarem suas vidas e a favela. Assim, aqueles que não cuidam da casa são considerados mais sujeitos a viverem nas ruas, estando à margem dos bens sociais.

A rua é associada a marginalidade, perigo e violência, onde predomina a impessoalidade, e onde há uma falta de limites e fronteiras. Na visão dos jovens, o mundo das ruas é violento e ameaçador e pode fazer com que crianças e jovens se tornem marginais e entrem para o mundo das drogas. Assim, quem mora nas ruas geralmente é estereotipado como drogado e ladrão, uma vez que a rua é tida como um lugar de opressão e violência, onde as ‘regras do crime’ devem ser seguidas, ou seja, obedecer ao líder das gangues. Apesar disso, é vista como um lugar que pode prover trabalho e dinheiro – por exemplo, através da limpeza de carros–, assim como um ponto de encontro entre amigos. A rua impõe um cruzamento de fronteiras, impossibilitando a fixação de identidades, através de processos de hibridização, confundindo a suposta pureza e insolubilidade das identidades.

Em alguns momentos, os estudantes reclamam que as mães os impedem de sair, jogar futebol ou ficar na rua, dando-lhes muito o que fazer em casa. Essa reclamação também é relacionada à preocupação das mães a respeito de deixar seus filhos expostos ao perigo das ruas. Quando o ambiente de suas casas é tido como tranqüilo e permite que os estudantes fiquem em casa, alguns preferem manter-se o mais longe possível do ambiente depressivo e sujo das ruas. Isso ocorre principalmente nos finais de semana, quando a maioria das pessoas não trabalha, os bandidos circulam mais na vila e os homens costumam sair mais e beber nos bares próximos. Essa situação é tida como a causa maior de muitas discussões e brigas entre vizinhos e entre homens e mulheres. Ao mesmo tempo que esses jovens querem as ruas, também relutam aos efeitos que os encontros com a diferença produzem.

Na tentativa de evitar as ruas, a escola é tida, tanto pelas mães, como pelos/ as jovens como uma importante possibilidade para mudar de vida. A escola é vista como um lugar de produção de saber, como forma de instrumentalização para o conhecimento, que possibilita adquirir condições para o trabalho e uma mobilidade social. Um exemplo disso é quando um menino refere por que vai à escola: “porque quero ser alguém na vida” (menino 2).

Segundo os jovens, tanto a escola quanto a casa são lugares que provêem segurança, educação, bons comportamentos e que os estimulam a continuar estudando e trabalhando para terem uma vida mais digna, ou seja, o espaço da escola permitirá uma diferença em relação ao modo como vivem. Por outro lado, a falta de atividades de lazer nos fins de semana é, muitas vezes, a razão pela qual eles ‘matam aula’ durante o tempo escolar e jogam futebol ou conversam com amigos, o que se compreende como a possibilidade de criarem outros modos de se reconhecerem e se observarem, ou seja, modos de resistência. A saída da escola está associada com a falta de oportunidade de mobilidade social e dificuldade de mudar as condições de vida, ou, como coloca uma menina:

eu espero acabar a oitava série para poder dar aula numa escola. Para ter um futuro tem que estudar. Mesmo não sendo bom, a gente precisa estudar. Muitas pessoas saem da escola, porque acham que não precisam de educação, mas elas não entendem que a maioria dos empregos exigem segundo grau completo. Muitas pessoas não acreditam nisso. (menina 1)

A esse respeito, os jovens se comparam com estudantes de camadas médias que não precisam trabalhar enquanto estudam. Sobre isso, há uma descrição que diferencia as pessoas da favela que estão na escola e são educadas, daquelas que não estão na escola e não tiveram educação. Alguns pontos citados como conseqüência de as pessoas não terem freqüentado a escola são as constantes brigas entre os vizinhos, o aumento do número de traficantes de drogas e de gangues e o problema do alcoolismo, associado ao abuso e violência contra mulheres e crianças.

Para evitar esses problemas, suas mães tentam mantê-los na escola como uma forma de desenvolver valores como honestidade, respeito e a importância do trabalho. O valor da honestidade parece estar mais relacionado aos meninos, no sentido de que eles têm de achar um trabalho “decente” para ganhar dinheiro em vez de ingressar em atividades ilegais como o roubo ou o tráfico. Para garantir a eficácia desses valores e normas, as mães geralmente usam punições físicas e verbais, como uma forma de educação e para provar sua autoridade às crianças e vizinhos. Porém, para os estudantes, o apoio das mães é essencial para incentivar a ida à escola, apesar de reclamarem do modo como suas mães lidam com eles e elas em relação à escola.

Mesmo sendo difícil para eles submeter-se às regras da escola, o fato de continuarem estudando está associada ao fato de terem oportunidade de mudar de vida e evitar o mundo das ruas. Os estudantes se mobilizam para criar outras alternativas a fim de transformar suas condições de vida, resistindo ao estatuto de verdade da escola como possibilidade de mudar de vida. Afirmam suas identidades não só a partir daquilo que eles não são fora da vila, como também a partir daquilo que não são dentro da vila. A respeito disso, uma menina comenta:

muitas pessoas na vila, elas estudam. Muitas pessoas de classe média acabam dizendo que todo mundo na vila é ladrão. Mas isto não é verdade; como todos os lugares, tem pessoas diferentes aqui. Algumas escolhem estudar e outras escolhem roubar. (menina 2)

Junto com a casa, a escola e, em alguns casos, a igreja, ou outras instituições, também têm um importante papel na construção de suas identidades. A igreja, por exemplo, como refere Guareschi (1998), é percebida como um local que pode propiciar sentimentos de fé, esperança e luta. Esses espaços são também constituídos por aspectos sociais e morais que formam um contexto diferenciado do domínio criminoso das ruas. Assim, os valores sociais e culturais oriundos da escola são, normalmente, as justificativas dadas pelos adolescentes pelas quais suas mães são muito rígidas com eles e com elas, temendo que a repetência os leve às ruas.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Os discursos dos estudantes denunciam o processo de construção das identidades através das experiências de vida. A partir disso, significam e ressignificam os sentidos, criando e instituindo o mundo onde vivem, fazendo distinções e definições de si próprios e dos outros. Produzem, muitas vezes, diferentes sentidos atravessados pelas experiências do seu dia a dia na favela.

Estes jovens produzem diferentes entendimentos sobre as razões que fazem com que as pessoas na favela, principalmente os jovens, tornem-se marginais, traficantes, ladrões e violentos. Esses comportamentos são entendidos não só em relação às suas precárias condições de vida, mas também por deixarem a escola e não terem o cuidado da mãe e do pai, evidenciando um discurso que vem a reforçar certos discursos hegemônicos, que por hora os tomam como sujeitos, quando são falados como verdades, mas também produzem resistência dentro do próprio campo de utilização.

As atividades destes meninos e meninas indicam uma diferença de gênero que começa a ser produzida cedo em suas vidas. Enquanto o espaço doméstico é designado para o serviço doméstico das meninas, é exigido dos meninos que façam suas atividades no espaço público. A respeito desta divisão de trabalho entre os meninos e meninas, é interessante notar que há diversos discursos que os interpelam na construção de suas identidades, a interseção de aspectos que dizem respeito às relações de gênero e à idade. Para evitar o perigo das ruas, suas mães querem tanto as meninas como os meninos em casa. Porém, muitas vezes, os meninos precisam trabalhar para ajudar a trazer dinheiro para casa.

Essas práticas discursivas impõem a esses meninos e meninas uma maturidade que às vezes os faz sentir despreparados para lidar com muitas situações. Eles precisam trabalhar cedo, porque a maioria das mães e pais atua no mercado de trabalho informal, ganhando salários insuficientes, o que força alguns estudantes a largar a escola e, por conseguinte, diminuir as perspectivas para uma melhor posição em suas vidas, que eles entendem ser possível pelo estudo e pelo trabalho. Assim, essas contingências forjam identidades, auto-estima e relações sociais. O trabalho e o estudo são significados como a possibilidade de mudar de vida, relacionando o lazer como atividades ocasionais.

Valores como o de morar em uma casa limpa e boa, em um bairro sem lixo nas ruas são experimentados como a possibilidade de os estudantes aproximarem o lugar onde vivem de outros lugares fora da favela. Esta valorização de suas casas também pode projetá-los para um espaço mais urbano, diminuindo sua desigualdade social com as pessoas que moram em lugares melhores da “cidade” e que são consideradas mais educadas, com mais oportunidades no mercado de trabalho, e ganham mais dinheiro.

Em outros momentos, como já se afirmou, uma casa pobre e suja é associada com a periferia onde há uma carência de serviços básicos, desemprego, maus tratos, fome, e pessoas mal-educadas. As noções de sujeira/limpeza parecem ser fundamentais para distinguir entre o que pode erguer as famílias para prosperidade, integridade e decência e o que pode indicar imoralidade, miséria e angústia, como também problemas estruturais, sociais, e emocionais. Esses sentidos são construídos no tecido social e são tomados como verdades para esses adolescentes; não são naturais, mas emergem e adquirem sentido quando esses se posicionam na rede discursiva, enunciando os efeitos dessas práticas discursivas, pois forjam identidades, forjam os modos deles serem e se pensarem.

O que tentamos mostrar, com este estudo, é o papel das Políticas de Identidade nas emergências de novas práticas discursivas, que produzem novas identidades e, por conta disso, diferentes modos dos adolescentes de se pensar e pensar o mundo em que vivem, travando lutas por imposição de outros sentidos que os atravessam, desnaturalizando as identidades culturais ao desestabilizá-las nos e pelos movimentos de migração e cruzamento de fronteiras.

NOTAS
*Professora Doutora Orientadora do Grupo de Pesquisa Estudos Culturais, Identidades/ Diferenças e Teorias Contemporâneas do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Psicologia da PUC-RS.
** Bolsistas de Pesquisa do Grupo 'Estudos Culturais, Identidades/Diferenças e Teorias Contemporâneas' do Programa de Pôs-Graduação da Faculdade de Psicologia da PUCRS; financiamento: FAPERGS, PIBIC/CNPq e BPA-PUCRS.
1 Por Políticas de Identidade entendem-se os processos dos grupos sociais e culturais de revolta contra a universalidade dos sentidos produzida culturalmente pelos sistemas de significação que pretendem expressar o humano e o social em sua totalidade (Guareschi, 1999; 2000).

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ABSTRACT

This study has the goal of discussing the meanings that girls and boys produce, related to places such as the home, the street and the school. Considering the social, economics, cultural conditions of the place they live in, we have tried to understand how they produce meanings, that construct their gender, sex, race and social class identities. Discussion groups and sixteen individual interviews were made, with students of a municipal school, located in a poor community. The comprehension of themeaning production was made through theoretic and methodological of Social Construcionism approach. The street is associated to marginality, danger and violence, creating a fear of being mistaken with bandits. Therefore the school represents, beside the home, a place where these girls and boys can have security and education and that can offer the possibility of changing their lives and have social mobility. The homes also understood as a stressing, sad and problematic place.

KEYWORDS
Meaning production; identities/differences; everyday life in "favela".
Recebido em: 23/05/02
Aceito para publicação em : 15/07/02
Endereço eletrônico para correspondência: nmquares@pucrs.br