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As
Modernidades Cindidas: um estudo sobre as condições de surgimento do campo
psicológico multiplicidade
The divided modernity: a study
about the conditions of the possibility of the psychology in its own multiplicity
Arthur Arruda Leal Ferreira*
Resumo
Procura-se, aqui, saber por que a
Psicologia, mesmo almejando-se científica, possui uma multiplicidade de
orientações, sem que nenhuma saia vencedora, ou, ao menos, perdedora. Sem se
ater à qualquer juízo epistemológico sobre a cientificidade da Psicologia, o
que se busca aqui é a constituição de modelos que dêem conta deste estado de
coisas. Inicialmente postula-se um modelo sincrônico e descritivo deste quadro
da Psicologia, batizado de máquina de múltiplas capturas. Sugere-se aqui que as
diferentes Psicologias representam diversos modos em que práticas sociais são
acopladas a conceitos científicos que, com este poder de ser ciência, retornam
às práticas sociais, produzindo subjetividades. Para explicar o funcionamento
destas máquinas, é constituído um modelo diacrônico que visa buscar as
condições históricas destas múltiplas capturas na modernidade, onde são
inventadas diversas cisões como as existentes entre: homem X natureza;
indivíduo autônomo X controlado; sujeito empírico X transcendental, passíveis de
várias combinações
Palavras-chave
História da Psicologia; modernidade;
filosofia da Psicologia
Introdução
Quem se depara com algumas peculiaridades do saber
psicológico não pode deixar de se colocar algumas destas questões:
1) Por que existem tantas Psicologias (sistemas,
projetos, escolas, teorias, hipóteses, orientações práticas, marcas autorais
etc.), não concordando os psicólogos nem quanto à definição da Psicologia?
2) Por que não ocorre, como nas ciências naturais (ou
duras), o predomínio de um projeto científico sobre os demais?
3) Por que não ocorre, ao menos, a refutação de uma
das tendências presentes no espaço psicológico, em que esta se mostre falsa, ou
ao menos ineficaz?
4) Por que neste espaço proposições com condições e conseqüências
tão opostas se sustentam?
5) Por que estas contradições se mantêm, ainda que o
apelo à investigação empírica seja tão rigoroso e extenso como nas ciências
naturais?
6) Por que as psicologias, mesmo as que buscam uma
fidelidade mais estrita aos cânones das ciências naturais (seus métodos, seus
modelos), não são sempre reconhecidas por estas, nem pelas epistemologias que
as sancionam?
7) Por que as práticas psicológicas mais diversas,
positivadas em investigações empíricas das tendências mais díspares, se
sustentam, ainda que apontem para as técnicas e finalidades mais divergentes?
8) Por que todas psicologias conseguem colher provas
empíricas, práticas e argumentativas contra as demais e a favor de si?
9) Por que os psicólogos não resolvem estes impasses
ao tomar conhecimento de novas epistemologias, modelos e metodologias
científicas, sendo que em nenhum outro saber se discute tanto sobre
epistemologia, metodologia, ou modelos científicos?
Enfim:
10) Por que a psicologia tende a satisfazer seu público,
dividir cientistas, filósofos e epistemólogos, e conduzir as suas partes ao
conflito?
Simplificando ao extremo, duas abordagens são
possíveis na tentativa de responder a essas questões. A primeira, a
epistemológica, buscará, através de uma abordagem normativa, distinguir na
história das ciências o progresso na direção de uma verdade, ou, ao menos, um
maior distanciamento dos erros e ilusões primeiras. Já a segunda abordagem não
tentará separar doxa de episteme, entendendo a verdade não como um ideal
regulador dos saberes, mas como efeito de uma determinada configuração
histórica, no jogo de suas possibilidades. Aqui encontramos por exemplo a
história das mentalidades, as arqueologias e genealogias foucaultianas e a
antropologia das ciências de Bruno Latour (1994). O que diferencia as duas
abordagens é a ausência no segundo grupo das idéias reguladoras de verdade e
progresso. Com isto, o grupo epistemológico toma a dispersão da psicologia para
condená-la por sua falta de cientificidade e sugerir a sua possível redenção
utópica num futuro em que a prática científica seja mais bem observada. O
segundo grupo, mais além da epistemologia, põe o ideal de verdade entre
parêntesis, descrevendo apenas as condições de possibilidade históricas da
Psicologia, dos jogos de verdade que a tornaram possível.
Na verdade, a psicologia não carece de uma abordagem
científica, sofrendo, por seu excesso, dado as sucessivas importações de
modelos oriundos das mais diversas ciências naturais. Esta utopia
epistemológica não apenas não rende a pacificação da Psicologia, como pelo
contrário, amplia a sua dispersão, pois os modelos científicos e as orientações
metodológicas importadas das ciências naturais são bem diversas, dando ensejo a
escolas e sistemas bem diferentes.
De mais a mais, esta aplicação do receituário
científico não garante a verificação, ou ao menos a superação de um projeto
psicológico em prol dos demais; apenas reforça a tensão no interior deste saber
em que cada orientação se arma das provas que ela mesmo se dá contra as demais.
Se a obediência a este decálogo epistemológico não garante a pacificação desta
dispersão, resta compreendê-la, pondo entre parêntesis os ideais de verdade,
progresso e unificação.
Portanto, dentre as duas orientações gerais expostas,
este trabalho se orientará para muito além das epistemologias, buscando a
compreensão da dispersão psicológica através das condições de possibilidade
desse saber, ainda que na configuração do modelo histórico-explicativo,
contribuições epistemológicas sejam bem vindas. Dois modelos serão propostos
para explicar esta dispersão do campo psicológico: um modelo sincrônico e
descritivo, a Máquina de Múltiplas Capturas e um outro dicrônico que explicaria
historicamente o primeiro, o das Modernidades Prismáticas. Comecemos pelo
primeiro.
A máquina de múltiplas capturas
Talvez o aspecto de distinção a Psicologia e as
Ciências Humanas das ciências naturais não esteja nos fundamentos desses
saberes ou na sua metodologia, mas em seus efeitos. Daí, cabe saber: a quem
fala a Psicologia? Sobre o que fala a Psicologia? Esta dupla pergunta, em nada
ingênua, remete a uma mesma resposta: todas as Psicologias visam falar do
humano, em sua relação com o mundo (os animais, quando abordados pela
Psicologia só o são em comparação com os seres humanos, de modo muito diferente
da etologia).
Cada corrente
da psicologia irá definir os termos e essa relação com o mundo de um modo bem
próprio. Talvez, o que explique a pluralidade das psicologias é que estas, ao
falar do homem como se este fosse um ente natural passível de ser descrito a
partir de um conjunto de leis e princípios fundamentais, acabam por produzi-lo,
inventá-lo, ao tentar defini-lo. Pois que aquele que fala não é o mesmo de quem
se fala? Por sermos seres falantes, tudo o que puder ser dito sobre nós
preenche nossa infinda indefinição, muda a “nossa natureza”, fornece-nos um
quadro, uma imagem.
Enquanto nós podemos mudar em função de que nos é
dito, o mundo físico permanece insensível aos nossos apelos, consentido, no máximo,
em legitimar a operacionalização de nossas teorias. Uma bela poesia pode
seduzir uma mulher, mas a mais elaborada elegia jamais fará um pôr-do-sol, um
jacarandá, ou uma locomotiva mais plenos de si. Aqui, há um problema que parece
ferir o princípio da objetividade científica: como se pôr de fora, no exterior
de um discurso, em que somos ao mesmo tempo os seus sujeitos e seus alvos?
Na Psicologia, a estratégia, ainda que não
deliberada, é objetivar, “objetar” o sujeito; constituindo uma imagem deste enquanto
um “algo”, que se possa reconhecê-lo “fora”, tomando-o à imagem e semelhança de
um objeto, e de preferência um objeto cientificamente já reconhecido. A
Psicologia irá sempre tomar o psicológico à imagem e semelhança de um objeto
científico já construído, sem que isso garanta o reconhecimento científico
pelas ciências inspiradoras. É deste modo que a psicanálise tomará o psiquismo
como um jogo de forças, próprio da física dinâmica; o behaviorismo, a nossa
conduta como um conjunto de espécies em busca de adaptação; e o cognitivismo,
os nossos processos superiores, enquanto módulos informacionais. O que a
Psicologia acaba realizando, na busca de sua cientificidade, é apropriar-se de
imagens, metáforas, objetos, métodos e questões, capturando-os a fim de se pôr
à distância do sujeito, objetivando quem enfim conhece.
Contudo, resta uma questão: se todas são eficazes,
por que algumas perecem ao sabor da moda? Pode-se pensar, de início, no poder
de divulgação que alguns sistemas elaboraram como a psicanálise, que se
disseminou fora do espaço exclusivamente acadêmico, penetrando de modo mais
direto na nossa vida comum. Contudo, pode-se igualmente pensar que estes
saberes não planam num mundo teórico; eles possuem ressonância enquanto
práticas, com todo um conjunto de modos de subjetivação já existentes na
sociedade. Ou seja, as práticas discursivas da Psicologia surgem dentre as
várias “tecnologias de subjetivação” próprias de nossa sociedade, para se
porem, em um segundo momento, como ajuizadoras, por seu poder de verdade, das
demais práticas.
É desta maneira que a Psicologia do desenvolvimento
origina-se a partir da invenção da infância, como um frágil período de nossa
vida, em que devemos nos manter longe da corrupção do mundo adulto. Surgida sob
esta perspectiva religiosa no século XVI, a escola será este espaço de proteção
à infância recém-criada, em nome da qual será produzida mais tarde (século XIX)
uma Psicologia, julgadora do certo e errado de nossas práticas escolares. Tal
processo se encontra brilhantemente descrito por Philippe Ariés no seu História Social da Criança e da Família (1979). De igual modo, o behaviorismo nasce parelho
a todo um conjunto de técnicas racionais de divisão e controle do trabalho
(como por exemplo, o taylorismo), retroagindo sobre estas, a fim de julgar sua
eficácia.
Se o céu da psicologia pode ser o das teorias
científicas, o seu solo é o das práticas sociais. E justamente, por seu caráter
meio divino, ungido pelo poder de ser ciência, é que ela não vai ser apenas uma
dentre as práticas, mas “a prática”, abençoada pelo rigor de sua suposta
cientificidade. Mas o que fazer se são muitas as alternativas, muitos os
“messias” no trânsito entre o divino científico e as incertezas de nossas
vidas? Ou acolhemos uma certa
alternativa dentro da amostragem do campo psicológico, ou nos abrimos à própria
pluralidade que o campo aponta.
A maneira aqui proposta de compreender todo este
processo é supor o funcionamento das psicologias à moda de uma máquina (assim
chamada por possuir um mecanismo, uma lógica) de múltiplas capturas (tomadas de
modelos científicos e de muitos modos de subjetivação). Tal máquina operaria em
três fases que se retroalimentam, retroagem sobre si.
Assim, num primeiro momento, toma-se uma imagem
científica (seja da física, da biologia, ou da informática) em consonância com
um conjunto de práticas sociais. Em um segundo momento, tal imagem, ungida pelo
poder de sua inspiração científica, decalca-se sobre os sujeitos, reordenando
num terceiro instante o conjunto de suas práticas, de onde ela mesma surgiu.
Pode se visualizar este modo de funcionamento no behaviorismo e na Psicologia
do desenvolvimento, tal como anteriormente esboçado. Resta saber, como surge
este mecanismo que faz cruzar conceitos científicos e práticas sociais: que
anomalia histórica faz com que estas entidades tão bem demarcadas na nossa
modernidade venham a se misturar objetivando os múltiplos sujeitos e indivíduos
da Psicologia? Este é o tema da próxima seção.
As modernidades prismáticas
A tese aqui proposta sugere que o campo psicológico é
uma invenção moderna, balizado pela invenção de uma série de personagens
cindidos como homem X natureza, indivíduo autônomo X controlado e sujeito
empírico X transcendental, pares passíveis contudo, de reagrupamento. Antes de
tudo impõe-se estabelecer o que se entende por modernidade. Três teses sobre a
modernidade são aventadas neste trabalho:
A) Não existe
uma única modernidade, mas tantas quantos os referenciais, os valores
presentes, as cronologias, seus cortes, seus termos, personagens, condições de
surgimento e efeitos. A modernidade implica nossa atualidade como referencial.
B) Toda
modernidade se manifesta de modo complexo, ou seja, sempre é marcada por
uma cisão ou bifurcação de valores ou termos. Jamais se dá de modo homogêneo e,
portanto, não carece de uma contemporaneidade ou uma pós-modernidade que lhe
forneça uma alternativa. Ainda que busquem uma purificação, uma alternativa
única, elas são marcadas por uma hibridação de termos e valores.
C) Todas
psicologias se interpõem nas dobras ou cisões da modernidade, ocupando um
espaço intersticial (o campo psicológico), balizado pelos termos das
alternativas modernas.
São muitas as
clivagens trazidas pelas modernidades: adultos X crianças, razão X loucura,
afirmação X crítica do eu, público X privado. Apesar da importância que estas e
outras cisões possam ter para a gênese do campo psicológico, as existentes
entre homem X natureza, indivíduo autônomo X controlado e sujeito empírico X
transcendental é que seriam capitais. Acompanhemos passo a passo a sua
constituição moderna e progressiva contribuição para balizamento do campo
psicológico.
Cisão entre homem
e natureza
Quanto a esta cisão, dois grandes modelos são
propostos para se descrever esta suposta oposição moderna: o de Bruno Latour
expresso em Jamais fomos
modernos (1994) e o de Michel Foucault,
presente
Apesar da discussão de Hobbes sobre o vácuo, sua
principal herança foi a sua filosofia política sobre o Estado, em que todos os
cidadãos estariam representados pelo rei. Apesar de Boyle ter produzido
escritos políticos, perseverou entre nós apenas a sua contribuição científica e
a invenção dos laboratórios como os nichos da verdade dos entes naturais.
Contudo, a modernidade produziria como efeito colateral desta tentativa de
purificação a proliferação dos híbridos, seres com marcas ao mesmo tempo
humanas e naturais. Apesar de não ser abordada por Latour, a Psicologia pode
ser vista como um dos muitos híbridos colaterais, multiplicados por este
esforço de segregação moderna, uma vez que ciência e humana ao mesmo tempo. É
desta forma que a Psicologia é recusada pelos cientistas e epistemólogos, por
ser por demais plural em suas vertentes e escolas, ao mesmo tempo que
desdenhada pelos humanistas por seu pretenso naturalismo, desagradando todos os
puristas de nossa modernidade. O processo sugerido por Latour poderia se
resumir em: Hibridação pré-moderna primeira – Esforço de Purificação moderna – Hibridação
moderna diferenciada e potencializada, da qual a Psicologia faria parte.
Em Foucault, as etapas são algo diversas e
cronologicamente mais tardias: haveria primeiro a constituição do Homem como
objeto empírico pela biologia (vida), economia (trabalho) e filologia
(linguagem), ao final do século XVIII. Este homem empírico é alçado à categoria
de ente transcendental pelas filosofias antropológicas (positivismo, dialética
e fenomenologia), duplicando o que já havia sido estabelecido no domínio empírico.
As Ciências Humanas restituiriam o jogo de representações pré-modernas e
clássicas, ao reduplicar a relação entre estes dois domínios, o transcendental
e o empírico, estudando como a vida, o trabalho e a linguagem são representados
em uma consciência. O processo poderia ser aqui esquematizado como Invenção do
Homem como Objeto Empírico nas Ciências do Homem – Duplicação Transcendental
nas Filosofias Antropológicas – Reduplicação Representacional nas Ciências
Humanas. Múltiplas duplicações e não cisão e fusão potencializada, como sugere
Latour. O que diferencia estes dois modelos?
Notadamente os
seus alvos, pois se Latour visa à separação entre Ciência e Política, na busca
moderna de purificação, Foucault parece tratar de algo posterior: o esforço de
colonização da ciência em direção a este objeto distanciado no esforço de
cisão, o Homem, alvo da moral, da política e do direito. Do mesmo modo que mais
tarde, Foucault, no período genealógico de sua obra (anos 70), tratará do
movimento inverso, da extensão, ou da produção das Ciências Humanas a partir da
administração política dos corpos.
Esta hibridação pós-cisão entre um domínio humano e
outro natural é o que explica o curto-circuito presente no Modelo da Máquina de
Múltiplas Capturas entre práticas científicas e práticas sociais. É assim que a
psicologia reduplica, hibrida o empírico no transcendental, metáforas
científicas em imagens de homem. Assim, poderíamos ter no cognitivismo, por
exemplo, uma visão racionalista de homem, de cunho cartesiano, concretizada
numa metáfora computacional. Ou, na Psicologia behaviorista, uma visão
ambientalista do homem encarnada numa biologia da adaptação. Ou ainda, na
psicanálise, o cruzamento de uma concepção desejante do homem com os circuitos
energéticos do aparelho psíquico, marcado pelo princípio de entropia. Explicado
como se produz o curto-circuito entre as práticas científicas e sociais, entre
homem e natureza, resta explicar como é possível que esta conexão produza
tantas individualizações e tantas subjetivações. Para isto recorreremos a
outras duas cisões.
Cisão indivíduo
autônomo X Indivíduo controlado
Quanto à
constituição do indivíduo através de seus mecanismos de controle a fonte é
quase que exclusivamente foucaultiana, no desdobramento de seus diversos modelos
genealógicos (ao longo dos anos 70), tendo como alternativa única o trabalho de
Luís Cláudio Figueiredo, de resto inspirado no próprio Foucault. A máxima deste
período genealógico que conjuga saber e poder vai conduzir à sugestão de que o
indivíduo, como figura de saber, é produzido pelo poder na forma disciplinar,
através de sua prática de verdade: o exame. Contudo, Foucault em alguns textos
como Soberania e Disciplina (1982), sugere que as Ciências Humanas não são
frutos lineares do aparato disciplinar, mas que são produzidas na interface
deste com o poder soberano, produtor do sujeito jurídico. O indivíduo soberano
jamais poderia se tornar objeto de um saber, uma vez que fonte da legalidade e
gerador de um sujeito autônomo. Na verdade haveria uma duplicidade de
indivíduos: o soberano que não faculta um saber sobre si e o disciplinar, que é
produzido através do exame. Se o poder disciplinar, através do exame dos
indivíduos, gera (em si ou em conluio com o poder soberano) a Psicologia e as
Ciências Humanas, o biopoder produz a população como objeto e as Ciências
Sociais como forma de saber. Contudo, mais um passe de miscigenação será dado
por Foucault ao propor, no crepúsculo do período genealógico (final dos anos
70), o poder pastoral, como forma de poder que gera a individualização e a
totalização próprias dos Estados Modernos (O Sujeito e o Poder, 1995b).
Figueiredo parece tratar da questão de modo mais
direto nos anos 80 em artigos como Um capítulo na história do conhecimento
científico: a metodologia experimental de caso único (1985) e Novas reflexões
acerca da teoria do conhecimento psicológico (1986), artigos de inspiração
foucaultiana, em que opõe o indivíduo soberano inventado pelo romantismo e
liberalismo, ao controle instituído pelas disciplinas. Em outro livro mais
tardio, Modos de subjetivação
no Brasil (1995), Figueiredo tomaria o
indivíduo soberano do liberalismo e romantismo como sujeito, ao passo que os
sujeitos produzidos nos controles disciplinares responderiam à categoria de meros
indivíduos. Como conciliar estes dois pontos de vista: um que supõe a
pré-existência dos indivíduos ao poder disciplinar (como opera Figueiredo), e
outro que vê a sua gestação justamente nele (como sugere Foucault)?
O que as disciplinas e o poder pastoral fazem é
inventar o indivíduo enquanto objeto de saber na modernidade tardia (final do
século XVIII). Até então, o veto aristotélico contra uma ciência do particular
perseverava. Se o indivíduo como alvo do conhecimento não existia, este
contudo, como fonte jurídica, já se fazia presente nas manifestações
iluministas, liberais e românticas, próprias do poder soberano. Daí que
Figueiredo (1985) sustente que este sujeito soberano não é alvo e condição
suficiente da Psicologia, enquanto saber sobre o indivíduo; é necessária também
a participação das disciplinas.
Pode-se, a partir daqui, de igual modo estabelecer
uma das tensões que opera como bússola no campo psicológico: como submeter a
controle aquilo que se estabelece como condição de autonomia e liberdade
jurídica? Deste modo, ou uma determinada teoria, prática ou sistema psicológico
valorizará mais o indivíduo em sua suposta autonomia soberana, ou tomará mais
como referência a disciplina, seja em nome da Sociedade, do Estado, ou do
Bem-Comum. Ou se parte do indivíduo autônomo em direção às disciplinas, como
procedem as Psicologias humanistas, ou se parte das disciplinas para a
constituição do indivíduo, como realiza o behaviorismo. A Psicologia se
situaria num espaço político entre o indivíduo autônomo do iluminismo
/soberania (fonte do poder) e o indivíduo sob controle das disciplinas (alvo
dos poderes). A psicanálise seria um bom exemplo de uma posição híbrida entre
estas duas possibilidades extremas. Ela estaria, como lembra, Ribeiro (1993)
entre a Lei soberana e a Norma disciplinar. Sua atuação também está além da
simples busca de autenticidade (melhor seria falar de singularidade) do
indivíduo, ou de controle e normatização deste.
Sujeito empírico X
Sujeito Transcendental
Esta última cisão moderna entre é encontrada no
domínio do que Foucault chamou de ética, ou do cuidado de si, dando conta dos
processos de subjetivação processados ao longo da história, desde a antigüidade
pagã. A consideração da antigüidade pagã operaria aqui como uma contra-prova da
universalidade de nosso modo de subjetivação atual, baseado numa hermenêutica
de si, em que buscamos desbastar na densa floresta da subjetividade, a cidadela
do verdadeiro eu, “o eu de todos os eus“. Contudo, esta busca não faz o menor
sentido para a antigüidade greco-romana, cuja ética não estava atrelada ao
imperativo do ‘conhece-te a ti mesmo’, mas do ‘cuida-te, fazendo de si uma bela
existência na evanescência de uma vida’. Em outras palavras, não há
hermenêutica de si, mas estética da existência; não há revelação, mas
construção de um eu. E estes “eus artificialmente fabricados” em nada remetem
às acepções atuais deste termo. Para Jean-Pierre Vernant (1990), os gregos não
possuiriam uma noção de eu enquanto interioridade ou personalidade, apesar
deste existir no discurso da primeira pessoa, nos feitos de um indivíduo como
os magos e guerreiros e na oposição entre público e privado (mas não há contudo
a oposição interno-externo ao indivíduo).
A invenção da interioridade individualizada e da
hermenêutica como instrumento de verdade só serão processados a partir do
cristianismo. Aqui começam a ser formados os termos básicos para a constituição
do cuidado de si atual, ao menos quanto ao seu objeto e ao seu processo.
Segundo Vernant, neste momento surge a figura do homem santo, que se destaca da
comunidade, a fim de buscar Deus no interior de seu verdadeiro eu, tendo, para
tal, que estar atento às armadilhas do demônio. Dentre elas, a adoração do
próprio eu: trata-se de uma introspecção sem qualquer possibilidade de apego.
Este modo de vida, lentamente produzido no seio da vida religiosa, irá se
propagar ao longo de todo o tecido social na modernidade: esta reflexão inicial
sobre o sujeito irá se alastrar no interior das práticas culturais,
instituições e hábitos individuais (conferir Bezerra, 1989, p.227). E com
algumas inversões de signos: o próprio eu, impedido de ser cultuado na ética
dos primeiros cristãos, tendo em vista a purificação do indivíduo, passará a se
tornar uma finalidade em si na modernidade, configurando-se como a nossa
riqueza mais íntima e preciosa. Na passagem para a ética moderna há, pois, uma
mudança de finalidade. E também, o exame de si, outrora exercido através de
instrumentos religioso-jurídicos, cede aos aparatos jurídico-científicos
modernos. Portanto, mudam igualmente as técnicas deste novo cuidado de si.
A divergência entre as fontes históricas utilizadas
aqui inicia-se aqui, nos limiares da modernidade. A origem da divergência diz
respeito a uma interpretação sobre Descartes. Para Foucault (1995b, p.277), a
grande novidade deste filósofo estaria em desvincular, pela primeira vez na
história, a busca da verdade das práticas ascéticas: o correto uso da dedução,
independente da retidão moral, seria suficiente para encontrá-la. É esta a
impressão que se tem ao se lidar com os seus textos filosóficos maiores, o que
não é muito próprio do procedimento de Foucault, sempre lançando a luz sobre
personagens e textos menores. Contudo, este procedimento nominalista é o que
realiza Latour (1998), ao tomar a correspondência de Descartes, bem como a dos
primeiros cientistas que começavam a despontar no século XVII. Nestes textos
menores poderá ser observada a busca de um extremo cuidado com o corpo e um
conjunto de procedimentos próprios das primeiras sociedades de pesquisa, que
remontam às sociedades de corte. Esta visão de Latour é em tudo congruente com
a de Figueiredo (1996), para o qual a modernidade teria em Descartes um de seus
marcos nas práticas de ascese, cisão e expurgo de partes do eu, visando a
constituição de um sujeito epistêmico como um fundamento, apto a lidar com as
flutuações céticas da opinião, próprias do “endiabrado século XVI”. Processo,
ainda segundo Figueiredo, análogo ao operado no interior das sociedades de
corte, na cisão entre um domínio público e outro privado1. Processo
de cisão e expurgo que também seria paralelo ao que é descrito em escala
macrossocial por Foucault em seu único texto ético sobre a modernidade, a História da Loucura (1992): trata-se da Grande Internação, realizada a
partir de 1650; aqui seria aberta uma distância irreversível entre Razão e
Desrazão, que teria sido mínima durante o Renascimento. A tese de que a
modernidade teria sido o período de grandes cisões no domínio da subjetividade
é de resto endossada por Philippe Ariés (1979): aqui se instalaria também o
fosso entre pobres e ricos, crianças e adultos; a massa uniforme da Idade Média
começa a se segregar em departamentos estanques. Nesta seqüência de segregações
são expurgados a loucura, a infância e um mundo privado, restos que a
Psicologia tomará ativamente como alvo, tentando reconectá-los a uma
experiência comum.
Como esta segregação se processa no cerne de uma
interioridade, que vai se tornando domínio comum na modernidade? Uma indicação
pode ser tomada na própria obra de Descartes, nas suas diversas cisões. Na obra
deste filósofo, demarca-se uma série de rupturas ontológicas paralelas: no
domínio da natureza entre a humanidade e os demais seres (em que somente a primeira
possuiria, junto com Deus, a presença da substância inextensa, ou o
pensamento). E no âmbito do indivíduo, entre corpo (extenso) e alma
(inextensa). No interior desta última região, a alma, é possível estabelecer
uma distinção entre o espírito enquanto cerne de toda inteligibilidade, razão e
consciência, onde o eu faz a sua morada, e uma região fronteiriça deste
espírito, situada na interseção com o corpo: as paixões2. As
epistemologias, no trato com o método, e tendo a verdade como meta, nasceriam mais
tarde desta primeira região, dando conta do sujeito epistêmico, ao passo que as
Psicologias dois séculos depois ocupariam a região de incerteza, das paixões,
sendo herdeiras do sujeito empírico. Esta diferença de domínios se amplia
quando em Kant, este sujeito racional, ‘sujeito de todos os sujeitos’ torna-se
transfenomenal. Contudo, a psicologia pretende ser mais do que a descrição de
nossas vivências imersas em um mundo de ilusões: busca se dar no trato com a
experiência imediata todos os rigores de uma experiência cientificamente
mediada. É deste modo que a Psicologia, de modo suplementar, tenta unir aquilo
que a modernidade tentou cindir: o sujeito transcendental ou epistêmico e o
sujeito empírico, impuro, ou “sujeito”. A questão torna-se então: como estudar
sob os rigores do método aquilo que foi excluído por definição de suas
possibilidades de ação? Como fazer uma ciência precisa do impreciso? Daí as
alternativas de Figueiredo (1986): ou se faz uma Psicologia partindo do vivido
em direção aos mecanismos transfenomenais, como realizariam a Psicologia da
Gestalt, a Epistemologia Genética e a Psicanálise, caracterizando-se uma
direção metapsicológica, ou se parte do cientificamente estabelecido, para se
abordar em seguida o âmbito fenomenal, como procede o behaviorismo, numa linha
parapsicológica.
A conjunção dos dois modelos
Como estas coordenadas modernas operam na
constituição do campo psicológico? Primeiro, no balizamento tópico do campo,
religando, de modos diverso
Conclusão
A constatação deste modo de funcionamento das
Psicologias nos retira de um juízo exclusivamente epistemológico, e nos propõe
a conexão com os espaços políticos e éticos: como proceder a avaliação desta
múltipla produção de sujeitos, contrária à nossa ambição de unidade consagrada
pela revelação de uma verdade universal do humano? A proposta aqui é simples:
ao invés de enviuvarmo-nos do ideal impossível de verdade unificada, propõe-se
sancionar do modo o mais livre possível a deriva histórica em que nos
encontramos, mesmo considerando a potência produtiva da busca de entes
purificados. Que conseqüências se produzem aqui?
Em primeiro lugar, não se almeja aqui
excluir qualquer sistema ou escola presentes neste campo, mas ressaltar os que
proporcionam uma maior compreensão e favorecimento desse processo de produção.
E aqui os exemplos são muitos: A Psicologia histórica de Meyerson e Vernant
poderia ser tomada como exemplar, especialmente se esta se voltasse para a
própria Psicologia enquanto obra histórica do espírito, na qual se expressariam
as funções psicológicas (percepção, pensamento, memória, etc), igualmente
datadas e modificadas dialeticamente pela própria presença da “obra
psicológica”. A etnoclínica de Thobie Nathan (1996) poderia se configurar como
um outro exemplo de como a psicanálise pode ser tomada de modo simétrico a
outras práticas de cura oriundas de outras culturas; estas compartilhariam com
a psicanálise várias posturas, exceção única feita à crença em entes
espirituais invisíveis, recusados pela psicanálise. Para além das alternativas
históricas e etnológicas, no cenário brasileiro pode ser observado o esforço de
cunho mais filosófico de se pensar em uma clínica, e mesmo uma Psicologia,
desprovida do ideal epistêmico da verdade como representação. Esta tem sido a
marca de grupos como os núcleos de Subjetividade e de Singularidade do Programa
de Psicologia Clínica da PUC de São Paulo, e do grupo Sujeito &
Subjetividade da UFF/UFRJ, no Rio de Janeiro, e de setores do Instituto de Medicina
Social e da Pós-Graduação em Psicologia Social da UERJ. Em todas as vertentes
destes grupos, nota-se a busca de de outras parcerias que esvaziem a aliança
epistemológica firmada pela psicologia desde suas origens. Desta forma,
pensadores como Henri Bergson, Gilles Deleuze, Jacques Derrida, Martin
Heidegger, Emmanuel Lévinas, Friedrich Nietzsche, Richard Rorty e mesmo
biólogos como Francisco Varela e físicos como Ilyia Prigogine são convocados à
cena.
Um
segundo efeito a considerar seria a efetivação da história da Psicologia como
analisador, não apenas de uma história das verdades psicológicas e suas
condições de possibilidade, mas igualmente de seus efeitos, através de uma
análise pragmática dos modos de individualização e e subjetivação gestados por
cada teoria e prática psicológica. Uma análise genealógica das origens e uma
análise pragmática dos efeitos produzidos.
Como terceira conseqüência, ressalta-se o próprio
movimento de estranhamento originada por esta múltipla possibilidade de gestar
verdades, sujeitos e práticas sociais. Todas elas na sua efetivação
contemporânea apontam para diversas ontologias de nós mesmos (utilizando-se de
um termo foucaultiano), recusando quaisquer moldes universais com que possamos
nos agarrar e nos identificar. Este estranhamento de nós mesmos em nossa
atualidade seria o principal efeito ético, estético e político: onde se busca
natureza, essência e identidade só podemos encontrar desnatureza, dispersão e
produção de formas cada vez mais livres nas correntes selvagens do devir.
Somente pensando os restos históricos com que nos formamos, e, por fim,
estranhando-os, podemos nos lançar nestas correntes do devir. Histórias de
híbridos em que nos cindimos e nos remiscigenamos de diversos modos.
Talvez seu efeito maior buscado por este trabalho não
esteja somente em sancionar múltiplas subjetividades mas uma subjetividade
múltipla, ou no dizer de Rolnik (1995), uma subjetividade processual e
heterogênea, apta a lidar de forma menos traumática com o “mal estar” causado
pelo apontar sucessivo de diferenças contrárias às nossas identidades mais
caras. Melhor será uma subjetividade marcada pelo próprio diferenciar-se. Ela
jamais poderia ser caracterizada como preferível, normal ou modal, mas operaria
de forma mais potente e menos viscosa com as máscaras com que nos fazemos
momentaneamente sujeitos. Ela está na temporalidade com as demais máscaras, mas
justamente daí tira sua força, jamais pondo-se na contramão do apego. A vida
faz-se de mortes parciais. Deste modo esta subjetividade é o mais legítimo
efeito de uma psicologia renovada pela imagem de uma máquina múltipla de
capturas. Essas três figuras paralelas (subjetividade múltipla, psicologia
temporalizada e máquina psicológica), realizam-se não só verdadeiras pelos
efeitos, como outros processos quaisquer, mas por se posicionarem na
processualidade, sendo pois, mais potentes que quaisquer outros. E resta
somente a tentação de dize-las: mais verdadeiras.
Notas
* Professor Adjunto do Instituto de Psicologia da UFRJ e
pesquisador financiado pela FAPERJ. Doutor pelo Programa de Psicologia Clínica
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).
[1] Procedimento que, segundo Peter Berger (1985), faz parte da condição
essencial de possibilidade da psicanálise, ao segregar um domínio privado, apto
a dar conta de nossas identidades mais caras, e um domínio público, onde
operariam os controles sociais.
2 Conferir O Tratado das Paixões (Descartes, 1972).
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Abstract
The
question of this article is to know why psychology, even considering itself
scientific, has a multiplicity of orientations, without any winner, or any
looser. This work searches for the constituition of models that explains this
situation of psychology, without any epistemological judgement about its
scientificity. The first model, descriptive and not historical, is the machine
of multiple captures, which explains the multiplicity of psychologies,
suggesting that all of it are the junction of social pratices with scientific
concepts producing like consequence kinds of diferents subjects. To explain
this machine, a second model is postulated to explain the historical conditions
of this multiple captures in the modernity, when are invented divisions like:
Man X Nature; Individual Self-governing X Individual Controled; Subject
Empirical X Subject Transcendental. All of these division are capable of new
combinations, constructing new machines.
Keywords
History
of Psychology; modernity; philosophy of
Psychology.
Recebido em:
15/08/01
Aceito
para publicação em: 21/12/01
E-mail: arleal@antares.com.br