Rogério
Centofanti*
O presente trabalho apresenta
um pouco do pensamento e obra do italiano Ugo Pizzoli, personagem da história
da Psicologia brasileira. Fornece
informações panorâmicas sobre a história da Psicologia na Itália e localiza
Pizzoli na história da Pedagogia Científica daquele país, a frente do
laboratório de pedagogia experimental de Crevalcore e Milão, na última década
do século XIX e primeira do século XX, antes, portanto, de sua vinda ao Brasil,
ocorrida em 1914, onde implantou um laboratório de Pedagogia experimental e
ministrou cursos de pedagogia científica na Escola Normal de São Paulo.
Introdução
A associação do nome de Ugo Pizzoli ao laboratório de Psicologia e Pedagogia
experimental, instituído em 1914 na Escola Normal de São Paulo, surgiu como
registro na historiografia da Psicologia brasileira por indicação de Plínio
Olinto (1944). Um pouco mais de
informações sobre esta experiência veio a público com Lourenço Filho (1955),
cuja versão foi reproduzida por vários pesquisadores. Detalhamento, entretanto,
só tornou-se disponível com as publicações de Marina Massimi (1992 e
1987). Mesmo assim, ainda há o que
explorar sobre esse episódio – seja no entendimento e significado dessa
experiência paulista em meados da segunda década do século XX, seja no
entendimento e significado do trabalho de Pizzoli.
Estaremos restritos ao cenário italiano onde Pizzoli edificou sua
carreira, disponibilizando mais algumas informações sobre essa personagem que,
mesmo discretamente, contribuiu com a formação das raízes históricas da Psicologia
científica no Brasil. Limitaremos nossa pesquisa ao que denominaremos de “fase
italiana”, ainda assim restritos ao período anterior de sua vinda à Escola
Normal de São Paulo. Aos interessados na
biografia de Pizzoli, bem como em dados sobre os laboratórios de São Paulo,
recomendamos a leitura dos textos de Massimi.
Ainda com respeito a biografia de Pizzoli, bem como sobre o elenco de
suas publicações, sugerimos a leitura do pioneiríssimo Mario Gandini (1985)
que, a exemplo de Paola Trabalzini, da Opera Nazionale Montessori, forneceu-nos generosamente vasto e rico
material de valor histórico.
Foto 1 - Ugo Pizzoli (1863-1934) na
Itália dos anos 10 do século XX. Foto fornecida por Mario Gandini, diretor da Strada Maestra, caderno da Biblioteca
Comunale de G.C. Gorce, de San Giovani in Persiceto.
Uma Breve Localização
Na Itália e no Brasil, Ugo Pizzoli está relacionado com a história da Pedagogia
Científica. Nas últimas décadas do
século XIX, houve uma febre, nos Estados Unidos e em vários países europeus,
para fazer da Pedagogia uma ciência – a Pedagogia Científica – e, como o ícone
das ciências fosse a experimentação, tornou-se imenso o esforço para criar uma
Pedagogia experimental, que teve por parâmetro a Psicologia experimental da
época. O próprio Oscar Thompson (1914),
então diretor da Escola Normal de São Paulo, não deixava dúvidas, já no título
de sua publicação alusiva à experiência, quanto aos objetivos do convite à
vinda de Pizzoli – O futuro da pedagogia
é científico.
Esse movimento foi um reflexo da revolução posta pelo modo de saber
quase monopolista que o positivismo representou nas últimas décadas do século
XIX, em comunhão com o modo de viver determinado pelas nascentes sociedades
liberais. Binet teria afirmado, segundo
Claparède (1956), que “a nova Pedagogia deve ser fundada sobre a observação e
sobre a experiência; deve ser, antes de tudo, experimental na acepção
científica da palavra” (p.45). Na mesma
obra, o próprio Claparède diz que “o pedagogo crê, mas nunca sabe” (p.45). Pizzoli é um representante desse pensamento e
o instrumento de sua materialização na Itália.
Um pouco das origens da pedagogia e da
psicologia científica na Itália.
Segundo Sante Bucci (1990), a “carta magna” da Pedagogia Científica
italiana é o escrito de Andrea Angiulli, publicado em 1868, em defesa do
positivismo. Também a Mario Ortensi
(1901) atribui, a este documento, a mesma importância, esclarecendo que, para
Angiulli, a questão social provinha do diferente desenvolvimento da cultura nas
diversas classes da sociedade, ou seja, que não se restringia ao antagonismo da
condição social, nem ao das condições intelectuais, morais, religiosas e
políticas. Dessa forma, a questão social
deveria ser tratada pela “reconstituição do organismo social inteiro”, que
dependia da “reconstituição mental dos indivíduos” (p. 5), tarefa atribuída à educação.
Essa forma de conceber a educação, como instrumento de ajuste social,
parece legitimar o entendimento de Sadi Marhaba (1992), de que o positivismo
serviu para dar sustentação ideológica à “burguesia italiana na fase de estabilização”
durante o período de unificação nacional, no “contexto geral de um país aflito
pela miséria e pelo analfabetismo das grandes massas” (Marhaba, 1992,
p.100). De acordo com Ortensi (1901), a Pedagogia
Científica na Itália teve como referência Antonio Marro, Costantino Melzi e Ugo
Pizzoli. Marro teria colocado em foco as leis do desenvolvimento humano, Melzi
avançaria para a institucionalização do primeiro laboratório de antropologia
científica naquele país, em Arona, no ano de 1897. Ugo Pizzoli, em Crevalcore, cria o primeiro
laboratório de Pedagogia experimental, em 1899.
Segundo Ortensi (1901), a Pedagogia evolucionista teve como base as
idéias de Herbert Spencer, que, ao aplicar a teoria da evolução aos fatos da
consciência, permitiu que o movimento regenerador do campo das ciências
naturais viesse ao campo das ciências morais. Assegurava que esse movimento,
“que já havia sido iniciado e promovido por Auguste Comte, mudava os destinos
da pedagogia que, agora, estudava o homem no período de sua formação física,
intelectual, moral , religiosa e social” (Ortensi, 1901, p.8), situando-se
concomitantemente sobre o campo natural e moral. Essa visão reafirma o posicionamento de
Marhaba (Marhaba, 1992, p.101) ao dizer que, “mais do que em outros países europeus,
o positivismo na Itália assume o vulto do evolucionismo”.
Quanto a natureza psicofisiológica da Pedagogia Científica na Itália,
Bucci (1990) destaca a importância de Wundt em geral, e de Giuseppe Sergi em
particular, principal personagem da Psicologia experimental italiana. Também
adepto de Spencer, Sergi é figura de grande importância na história da Psicologia,
Antropologia e Pedagogia de seu país. Será destacado em La evoluzione della psicologia sperimentale in Itália (A evolução
da psicologia experimental na Itália), de Francesco Umberto Saffiotti (1920),
como o primeiro dos três sicilianos precursores da psicologia experimental
naquele país. Os outros dois são Gabriele Buccola e Simone Corteo. Segundo
Saffioti, para orgulho da Psicologia italiana, Sergi publicou, em 1873, antes,
portanto, do célebre trabalho de Wundt, Gründzugeder
psysiologischen psychologie, o primeiro fascículo de Princípios de psicologia com base nas ciências experimentais. Na versão de Marhaba, a Psicologia italiana
do período positivista e evolucionista tem a liderança de Buccola, Roberto
Ardigó e Sergi. Para ele, Buccola é
“verdadeiramente psicólogo no sentido moderno e específico” (1992, p.
127). Ardigó tinha um caráter
preponderantemente filosófico e Sergi um caráter predominantemente antropológico. No artigo de Saffiotti, Pizzoli será lembrado
apenas para servir de introdução a outro nome de relevo na história da
psicologia experimental italiana – Zaccaria Treves, no seguinte contexto:
em 1908, o velho laboratório
de pedagogia científica, fundado em Crevalcore dez anos antes pelo Dr. Ugo
Pizzoli, fervoroso e entusiasta discípulo de Giuseppe Sergi, se transformava em
nova vida no laboratório de psicologia pura e aplicada, instituição pública de
Milão e agregado à Academia Científico-Literária. (Safiotti, 1920, p.139)
Naquele 1908, o laboratório passou a ser dirigido por Treves. A mesma referência da passagem de um
laboratório “especialmente destinado à Psicologia aplicada à Pedagogia, como
aquele cívico de Milão, fundado por Pizzoli e agora dirigido pelo fisiólogo Z. Treves”,
será antes lembrado por Sante De Sanctis (1982) em artigo publicado em 1910.
Pizzoli não é citado no livro de Marhaba.
Valéria Paola Babini (1996) estabelece importante paralelo entre a
história da Psicologia e a história da Pedagogia Científica italiana. Situando na questão dos frenastênicos a
origem da psicologia científica na Itália, demonstra que o ingresso dos médicos
no campo da educação (que era o caso de Pizzoli), deveu-se às negatividades que
os excepcionais representavam àquele país, nos últimos anos do século XIX. Coforme Andrea Verga Babini (1996), criador
do termo frenastênico, havia postulado que a excepcionalidade não era
propriamente uma doença, abriu campo de tratamento aos cuidados de uma educação
especial. Esta postulação, de acordo com Babini, teria levado Enrico Morselli a
falar da necessidade de uma reforma do método pedagógico para atendimento desse
público, em 1880, a que denominou de domesticação dos excepcionais, abrindo a
oportunidade para a criação de uma Pedagogia Científica, por isso entendendo a
renovação da Pedagogia geral sobre uma base fisiológica, na qual a frenastenia
tinha suas raízes. Segundo a autora, as
formas de educação e seus reflexos na vida social tornaram-se palco de
discussões entre psicólogos e antropólogos, com explicações que giravam em
torno dos conceitos de decadência, degeneração e regeneração, não raro
classificando excepcionais na mesma escala que criminosos e parasitas sociais. Uma
destas vertentes propunha uma seleção
artificial como maneira de completar e melhorar a seleção natural, a que deu o
nome de regeneração, por intermédio de dois meios – repressão e educação. O próprio Pizzoli é exemplo desse período,
com a publicação de Contributo all’antropolgia dei frenastenici (Contribuição à
antropologia dos frenastênicos), em
1901, marcando sua passagem pelo Instituto Médico-Pedagógico Emiliano, na qual
afirmava estar
determinado a publicar os
resultados destes exames para trazer uma contribuição à doutrina da degeneração
e também para mostrar com dados múltiplos que, se dos caracteres antropológicos
não se pode extrair deduções de ordem psiquiátrica, pode-se ao menos trazer uma
ajuda eficaz e preciosa ao diagnóstico da frenastenia (Pizzoli, 1901,
p.159).
Para ter-se uma idéia do que era a doutrina de degeneração dos excepcionais,
Pizzoli constata que, na maioria dos frenastênicos do sexo masculino, a
envergadura dos membros superiores é maior do que a estatura, o que o levava a
concluir que isso “constitui um grave caráter de degeneração, uma lembrança
atávica dos caracteres pitecóides” (Pizzoli, 1901, p.246). Traduzindo – o frenastênico masculino, ao
apresentar uma envergadura dos braços maior do que a própria estatura,
demonstrava ser um representante ontogonético de um tempo primitivo em que, na
filogênese, o homem assemelhava-se a um macaco.
Que o leitor não faça disso um agravo a Pizzoli pois essas analogias e
conclusões eram comuns aos adeptos da antropometria da época.
O Laboratório de Pedagogia Científica de
Crevalcore e Milão.
Giuseppe Sergi, que em 1886 reclamava a necessidade de um laboratório
antropológico para aplicações pedagógicas, assistiu ao nascimento do primeiro
Gabinete de Antropologia Pedagógica em Arona, e ao primeiro Laboratório de
Pedagogia Científica em Crevalcore, criado por Pizzoli em 1899 (em 1904 o
laboratório é transferido para Milão).
Deve ter assistido com satisfação, pois as duas iniciativas continham
muito das linhas e princípios por ele formulados em seu Educazione ed Instruzione (Educação e Instrução), de 1892,
inclusive compartilhando da idéia de que a escola é um laboratório em que a
massa humana passa por inumeráveis mecanismos para aperfeiçoar-se. Afinal, é na obra de 1892 que Sergi fala de “um primeiro passo à pedagogia
científica” (p.105).
Em 1902, Sergi (1987, p.179) localiza a “operosidade científica e
prática de Ugo Pizzoli” no âmbito da
história da didática e da Psicologia da educação na Itália. Atribui a ele a implantação do laboratório,
primeiro do país, “dotado de instrumentos que serviam a um propósito
pedagógico, muitos deles de sua própria invenção” (1987, p.180), como também
lhe credita a existência do primeiro curso de Pedagogia Científica e
experimental, de importância para a reforma escolar na Itália. Essas afirmações constam de um relatório que
Sergi elaborou ao Ministro da Instrução Pública, sobre o curso de Pedagogia
corretiva ocorrido em Crevalcore.
Com base nas informações de Sante Bucci (1990), no relatório que Sergi
elaborou na condição de Comissário de Governo, avaliava a organização da
primeira experiência dos Cursos de Pedagogia Científica, autorizados pelo
Ministério da Instrução Pública. Participaram 102 pessoas, entre professores de
escolas normais, inspetores e diretores, instrutores de escolas para
deficientes e professores do ensino básico, vindo de diversas regiões do pais. Segundo Babini e Lama (2000), “o curso de
Crevalcore era uma novidade absoluta na Itália” e que, no segundo curso,
ocorrido em agosto de 1903, a abertura foi confiada a Maria Montessori, “única
mulher do corpo docente” (2000, p.140).
A própria Montessori (1909) se reporta ao “nobre e audaz lançamento”, na
Itália, de uma Escola de Pedagogia Científica, “por obra do doutor em medicina
prof. Ugo Pizzoli, com o propósito de preparar os professores ao novo endereço
da pedagogia” (1990, p. 6).
A programação do primeiro curso de Pedagogia Científica, desenvolvido
pelo laboratório de Crevalcore, teve, conforme relato do próprio Pizzoli
(1901a), aulas de anatomia, fisiologia, Antropologia, higiene pedagógica e
exercícios práticos. O foco se fez maior
nas aulas de anatomia, fisiologia e Antropologia. Em Psicologia pedagógica, abordou-se a
classificação dos fatos psíquicos, as condições orgânicas de tais fatos, o
paralelismo psicofísico, o ato reflexo, as sensações, percepções e sentimentos
elementares, movimentos instintivos e voluntários, educação dos órgãos dos
sentidos, educação da memória, imaginação e fantasia, associação de idéias,
espírito de observação e capacidade reflexiva.
O segundo curso, também de acordo com Pizzoli (1903), teve lições de
anatomia, fisiologia, Antropologia, higiene escolar e Psicologia pedagógica,
agora acrescido de aulas de Pedagogia penitenciária, exame psicológico
especial, ortofrenia e educação física.
O enfoque psicológico foi enriquecido em relação ao curso anterior,
agora com ampla divulgação do emprego dos “testes mentais”.
Em publicação de 1900, na qual relata as atividades do laboratório de
Crevalcore, Pizzoli diz que a ciência pedagógica “deve encontrar, sobretudo na
psicologia experimental, na Antropologia geral e especial, e na fisiologia do
sistema nervoso, seus principais fundamentos positivos e científicos” (Pizzoli,
1900, p.6). A necessidade dessa forma de
constituição da Pedagogia tinha como motivo o fato da criança ser, em sua
relação com a escola e o educador, um “organismo bio-psíquico em formação” (Pizzoli,
1900, p. 6), um organismo em via de desenvolvimento.
O laboratório estava instalado em construção de 75 m2 , em
terreno de 300 m2. Um detalhe
curioso é que era dotado de energia elétrica para por em funcionamento alguns
dos aparelhos, mas a iluminação se fazia por gás acetileno. Os aparelhos e equipamentos descritos tinham
como referência a ordem dos “exames” a que serviam, cujos resultados eram
registrados na “folha biográfica de cada sujeito” – exames antropológicos,
fisiológicos e psicológicos. A folha biográfica já havia sido formulada por
Sergi em seu livro de 1892.
É imensa a lista dos instrumentos e aparelhos descritos para realização
dos exames fisiológicos e antropológicos.
Lembrando que deveriam ser utilizados pelos professores no decorrer do
curso, não é difícil imaginar as dificuldades que enfrentavam, ao lhes fazerem
crer que a migração à Pedagogia Científica impusesse essa condição instrumental,
até mesmo porque podiam imaginar que a eles coubesse o papel de promover os
exames e registros nas “folhas biográficas”.
Não é sem razão que Montessori afirmou que
experimentou-se
estudar nas escolas elementares a antropologia e a psicologia pedagógica, na
esperança de obter da antropometria e da psicometria a renovação da
escola. Ao progresso que resultou desse
esforço, seguiu-se a intensificação mais pela própria ciência do que pela
pedagogia. Os médicos orientaram mais a
sua contribuição experimental no sentido da psicologia e da antropometria que
no sentido tão esperado da pedagogia científica. Em conclusão, jamais o psicólogo ou o
antropólogo ocupou-se em educar crianças nas escolas, como também os educadores
não se tornaram cientistas de laboratório(Montessori,1909, p. 7).
Os exames antropológicos serviam ao posterior registro dos caracteres
morfológicos gerais do organismo individual do aluno, como estatura, peso, constituição,
sexo, idade, harmonia geral na proporção do corpo. Interessavam as características
morfológicas externas relativas a forma, volume e proporção do crânio e da
face, do tronco e das articulações, bem como do cálculo de índice cefálico.
Fazia-se o exame antropológico dos caracteres morfológicos especiais de
diversos órgãos dos sentidos específicos – olhos, nariz, ouvidos, boca e
dentes. A fim de “facilitar aos professores
a prática desses exames” (1900, p.9), Pizzoli criou uma tabela reproduzindo
todos os órgãos na normalidade e as anomalias de conformação e desenvolvimento
mais freqüentes.
Os exames fisiológicos visavam ao registro das funções orgânicas e das
funções de sentidos e movimentos. Nas funções orgânicas, registravam-se as funções
circulatórias e respiratórias. O exame dos fenômenos de sensibilidade e motilidade,
merecia, segundo Pizzoli (1900, p 9), muito escrúpulo e diligência, pois
significava a entrada “no território reservado aos fenômenos da mente” . O exame do sentido do tato, permitia saber o
grau em que se encontravam, no sujeito, as noções de de forma, superfície,
consistência, posição, peso, resistência, quente e frio. Examinavam-se a sensibilidade básica, o
sentido de paladar e olfato, a orientação acústica e visual, bem como o grau de
excitabilidade dos nervos e o sentido dolorífico. Do sentido muscular, interessava obter dados
sobre a energia, extensão, velocidade e duração dos movimentos.
Os exames psicológicos tinham um destaque especial. Diz Pizzoli que
os métodos de observação
experimental que uso para o exame psíquico das crianças, são aqueles
essencialmente característicos da moderna psicologia científica. Eles se
propõem a decompor o conteúdo da consciência em seus elementos, estudar a
propriedade qualitativa e quantitativa desses elementos e descobrir de modo
exato as relações de consistência e sucessão (Pizzoli, 1900, p.11).
Em sua publicação de 1905 sobre Esame
psicológico dell’educando (O exame psicológico do educando) (1905b), diz
Pizzoli que o exame psicológico deve ser, sobretudo, um exame da sensibilidade
nas suas várias formas e nas diversas associações, uma vez que as sensações
eram os elementos fundamentais dos fatos psíquicos. Para a educação, os exames psicológicos
tinham duas funções – a de conhecer o educando e a que permitiria, pelo domínio
dos mecanismos e das leis que governavam as funções psíquicas, o delinear dos
princípios da educação e a ajuda racional para aplicá-los. Aos educadores, interessariam os exames das
funções sensoriais e os das funções psíquicas, em cada um dos alunos, para que
pudessem avaliar suas características, atitudes, tendências, possíveis
deficiências ou perversões morais ou intelectuais.
O exame deveria ser feito no início do ano letivo e repetido depois de
um certo tempo, para confirmar ou corrigir os dados resultantes, de modo a
avaliar modificações na atividade psíquica da criança, em virtude da ação
educativa, dos exercícios, ou de outras causas internas e externas. Os exames deveriam ser realizados em
condições oportunas, com a criança em seu estado perfeitamente normal – nem
cansada, nem distraída, nem deprimida, nem irritada e nem comovida. No momento do exame, a criança deveria estar
sensível aos estímulos artificiais escolhidos e aplicados pelo examinador, de
modo a que pudesse medir a intensidade, duração e a natureza das sensações e
dos sentimentos. As respostas seriam a
indicação da natureza e da conformação dos órgãos e o grau de desenvolvimento
de que suas atividades eram capazes. Os
exames deveriam ser feitos na escola daquela criança e os dados registrados em
uma folha biográfica individual, à qual já nos referimos.
O exame das funções psíquicas tinha, por dado básico, a sensação, que se
originava em estímulo proveniente do mundo exterior, usando como porta de ingresso
no organismo os órgãos dos sentidos internos e externos (lado anatômico), uma
via de percurso pelos nervos sensoriais e sensitivos (lado fisiológico) e chegava
ao destino, o cérebro, substrato material e base fisiológica da consciência,
que iria fixá-lo e elaborá-lo (lado psicológico). Para Pizzoli, a vida psíquica
ficava assim resumida: os pensamentos ocorrem na esfera representativa ou
intelectiva; os sentimentos na esfera sentimental ou afetiva e a vontade na
esfera volitiva
Os processos da esfera intelectiva ou representativa ocorriam da
seguinte forma: a impressão dos estímulos junto ao córtex desperta a atenção do
indivíduo – “este processo rapidíssimo de interpretação mental transforma a
sensação em percepção, que é o ato psíquico mais elementar” (Pizzoli, 1905b, p.255). Todas as sensações que chegam ao centro de
associações do cérebro determinam uma modificação na estrutura íntima das
células do córtex, uma impressão especial – as imagens sensoriais – que formam
a base da memória. A evocação das
imagens armazenadas determina a identificação ou a diferenciação das percepções
que chegam.
A esfera sentimental deve-se ao fato das sensações produzirem um estado
de dor ou de prazer – o caráter representativo passa a ter um caráter afetivo
ou um tom afetivo, emocional. A emoção,
dependente da memória e da imaginação, forma os sentimentos.
Os sentimentos têm uma considerável
importância prática. Como as emoções influenciam a nossa conduta diante de
ocorrências presentes, os sentimentos determinam antecipadamente a direção
dessa conduta diante de circunstâncias futuras, que podemos prever por meio do
raciocínio(Pizzoli, 1905b, p.258).
“O homem sente, pensa e deseja” (1905b, p.258), diz Pizzoli ao explicar
a esfera volitiva. As sensações, quando
transformadas em memórias, idéias e sentimentos, não completam ainda o “ciclo
funcional” – como produto, progridem em reações que são os movimentos, “última
fase da onda nervosa produzida pelos estímulos externos e
internos”(p.258). Além dos atos
reflexos, os organismos respondem com atos voluntários, ou até mesmo com atos impulsivos,
como pronta reação a um estímulo externo.
Uma personalidade é tanto mais evoluída e perfeita, quanto mais elevados
são os sentimentos que assumem a força dos motivos e impelem o agir.
O fenômeno da consciência tem três elementos primordiais: um elemento de
conhecimento, de discernimento (origem da inteligência); um elemento de prazer
e de dor (origem do sentimento e da emoção) e um elemento de reações (origem da
vontade). O elemento intelectivo
(sensação) resume-se no sentir ou recordar as impressões do estímulo externo ou
interno na sua qualidade. O elemento
sentimental (o tom da sensação) resume-se no sentir ou recordar as impressões
do estímulo externo ou interno na sua quantidade. O elemento volitivo (movimento), resume-se em
sentir o esforço do movimento, que é uma forma da sensibilidade interna. A consciência tem por constituição três fases
ou processos sucessivos: processo ou fase periférica – de uma excitação que uma
energia física produz sobre o órgão da sensibilidade; processo ou fase
intermediária – propagação daquela excitação ao longo dos nervos sensoriais ou
sensitivos, até a zona cortical; processo ou fase central – discernimento da
excitação por intermédio da atenção. A
qualidade ou condição de consciência deve ser considerada quanto a sua
intensidade – da maior ou menor precisão com que o discernimento se efetua no
foco da consciência; clareza – da força que alcançam as sensações para superar
o limiar da consciência; extensão – o maior ou menor número de fatos perceptivos
que podem entrar no campo da consciência; a continuidade – a coordenação dos
fatos psíquicos, no tempo e no espaço, que dão idéia da identidade pessoal, da
consciência do Eu. “A consciência”, diz
Pizzoli,(1905b), “é a base da personalidade ou, em outras palavras, do
sentimento de si, do próprio Eu” (p.314).
A exposição às baterias de testes servia ao registro do que ele
denominava de “fisionomia psíquica individual do sujeito” (p.12). Defendia a
idéia que os testes mentais deveriam substituir o material didático em uso nas
escolas. A justificativa era que o teste
dava uma imagem precisa da disposição fisiológica, psíquica e intelectual do
aluno, o que facilitaria ao professor a aplicação de métodos pedagógicos,
podendo substituir o velho e gasto material didático das escolas elementares,
uma vez que tendiam a desenvolver na criança as habilidades que eram
fundamentais no ensino escolar – escrita, leitura, enumeração e contagem – os
testes “podem adestrar positivamente a capacidade sensitiva, perceptiva e intelectual
dos sujeitos educandos” (1900, p.12), assegurava.
Para que isso não pareça estranho ao leitor, é importante dizer que os
“testes mentais” de Pizzoli tinham um caráter do que talvez possamos chamar,
ainda que impropriamente, de exercício mental.
Não mediam – exercitavam, assemelhando-se ao que se pode denominar de
máquina de ensinar. Exemplo disso é um
teste, por ele idealizado que pretendia substituir as preliminares gráficas da
escrita, uma vez que escrever só se tornava possível quando estivesse formada,
de modo automático, a coordenação perfeita da condição fisiológica e
psicológica solicitada pela escrita, e tal condição custava às crianças muito
tempo e muito exercício.
O “teste” de Pizzoli consistia em uma placa metálica, na qual as letras
do alfabeto e figuras geométricas foram recortadas de forma vazada. A criança, com o emprego de um estilete
igualmente metálico, deveria acompanhar as formas no interior vazado da placa,
sem tocar nas bordas. Como a placa e o
estilete estavam eletricamente ligados a uma campainha, ela soava quando os
elementos metálicos se tocavam. Engenho
interessante, sem dúvida, que servia para testar e ao mesmo tempo treinar o que
mais modernamente se denomina de prontidão para a escrita.
Essa invenção simples, mas muito eficaz, se perdia na necessidade de impor-lhe
explicações altamente elaboradas, que francamente iam além dos limites
observáveis. Ortensi (1901), encantado
com esse teste, diz que, “sem entrar em análise minuciosa dos vários fatos
mentais de que esse experimento oferece prova”(p.26), ficam evidenciados alguns
pontos reveladores: o grau de exatidão com que se formam as percepções do
sujeito, a maior ou menor facilidade dele associar imagem mental e motora, o
modo mais ou menos fácil com que executa o trabalho de coordenação muscular, o
grau de atenção que deveria acompanhar as atividades dos diversos centros
nervosos e da força da associação, o grau de energia do ato volitivo que dá
impulso a muitas ações musculares, a exauribilidade mais ou menos exigida em
relação ao estado dos centros psicomotores. O teste podia sugerir estes pontos,
mas não evidenciá-los. Outra referência a esse teste e à listagem dos mesmos
pontos, será apresentada por Pizzoli, em publicação de 1901b.
Uma competência indiscutível de Pizzoli era sua habilidade para criar aparelhos
e instrumentos de emprego em atividades pedagógicas. Exemplo disso é encontrado em Il
tavolo psicoscopico Pizzoli e l’educazionee dei sensi (gabinete
psicoscópico Pizzoli para educação
dos sentidos) (Pizzoli, 1905a) , onde
os empregos são fartamente ilustrados.
Figura 1 – Gabinete
psicoscópico Pizzoli, para a educação dos sentidos
Fonte: Gardini, 1995.
O desenho é original de Pizzoli, coletado por Mario Gandini (1995). Tratava-se de um móvel que o autor denominou
de “gabinete portátil de psicometria”.
Aproveitável dos dois lados, o gabinete continha um conjunto de
dispositivos que se prestava a diferentes “testes”, na concepção de Pizzoli. Era por intermédio de aparelhos como esse que
Pizzoli realizava seus “testes” e promovia o exercício de desenvolvimento de
habilidades – isso sem dúvida!
A pedagogia e a psicologia de Pizzoli.
Apesar das muitas publicações de Pizzoli, são poucas as que contém o que
podemos propriamente denominar de elaboração teórico-conceitual. Dentre essas, duas parecem significativas – Ill fato educativo è fatto biológico e
sociale (O fato educativo é fato biológico e social) e Illsubstrato scientifico
della Pedagogia (O substrato científico da Pedagogia), ambas de 1899. Textos pequenos, muito pequenos.
Para Pizzoli (1989a), o fato educativo é inerente ao organismo
bio-psíquico, uma vez que é um instrumento de adaptação, necessário às
condições de existência física e à preservação da espécie, por isso entendendo
o processo pelo qual o gerado torna-se semelhante a quem o gerou. Como, ao
nascer, a conformação orgânica do indivíduo é incompleta e diferente da
geradora, o gerado precisa, seguindo o plano de desenvolvimento, contar com a
força da ontogênese, da hereditariedade, do ambiente e da educação, para poder
integrar-se e assumir os caracteres do gerador.
Afirma Pizzoli que erra quem considera o fato educativo somente como um
subsídio, um acessório introduzido como coeficiente à vida da espécie, pois, na
classificação dos fatos biológicos – nascimento, nutrição, reprodução e morte –
o fato educativo já pode ser encontrado perto do nascimento. Na sua estrutura primordial, as atividades
elementares do fato educativo são físicas, inconscientes, intuitivas e
miméticas. Entretanto, nos organismos mais complexos, onde as necessidades
superiores acrescentam-se às atividades elementares, o fato educativo torna-se
consciente, uma imitação. Como o fato biológico, portanto, o fato educativo é
um complemento do fator hereditário e ambiental, com o propósito de integrar os
indivíduos na ordem das circunstâncias exteriores da vida, e de colocá-los em
condições de administrar a vida autônoma, em relação ao ambiente inorgânico e
biológico em que vivem.
Esse resultado da educação - essa capacidade do organismo administrar a
vida autônoma - é obtido pela assimilação do educador pelo educando – do indivíduo
pela espécie – por uma integração da biogênese, da hereditariedade e da ação
plasmática do ambiente. Dessa forma, a
atividade educativa é um momento particular, aspecto mais elevado e uma forma
especial e complexa do processo assimilativo. “Assimilar é o mesmo que viver”
(Pizzo;i, 1899ª, p. 122) Como a educação se faz do gerador para o gerado,
exercita-se da parte dos organismos adultos para os organismos em via de
desenvolvimento, acaba por resumir-se na lei de solidariedade entre os seres
formados e os seres em formação, com o propósito de tornar os organismos jovens
semelhantes aos velhos. Como essa
assimilação é realizada primeiro pelos geradores e depois pelo grupo social, o
fato educativo é também um fato social – um fato da espécie. Na condição de fato social, a educação torna
mais fácil a adaptação e o acordo entre o indivíduo e a sociedade.
O objeto da Pedagogia, essa “ciência moderna”(Pizzoli, 1899b, p.1), é a
relação fundada entre duas condições – uma ativa e outra passiva – sendo a
última inevitavelmente “a personalidade humana em desenvolvimento” (Pizzoli,
1899b, p.1). Nada diz sobre a condição
ativa.
Se a Pedagogia deve intervir para regular o desenvolvimento da personalidade
humana, é conveniente derivar seus estudos ao redor das noções das ciências, em
seus diferentes aspectos. Assim, a
pedagogia encontra seus substrato científico na morfologia, na fisiologia e na Psicologia,
da última podendo conhecer as funções do pensamento humano. Com base nessas três ciências, a Pedagogia
tornava-se uma “ciência biológica”.
A personalidade humana, na psicologia de Pizzoli (1899b),
é a forma mais elevada de
individuação e uma síntese que se compõe de todos os elementos constitutivos do
indivíduo humano, elementos físicos e orgânicos, como também psíquicos e
funcionais. Em outras palavras, é o
produto da história do desenvolvimento do organismo físico – somatogenia – e do
psíquico – psicogenia. Constitui-se de uma base física e orgânica, e de uma
base psíquica e funcional.
A base física da personalidade “não está separada da base psíquica – uma
supõe necessariamente, essencialmente a outra – elas nascem concomitantemente e
se desenvolvem em paralelo” (Pizzoli, 1899b, p. 2). Os elementos morfológicos mais simples que
compõem a base física da personalidade são as células que, “agrupando-se e
sistematizando-se” (p.2), formam os tecidos, que formam os órgãos, que formam
os aparelhos e, os últimos, os sistemas.
Essas várias partes do organismo – “sua constituição e estrutura, bem
como a relação recíproca de funcionalidade” (p.2) – têm por efeito a
preservação da vida orgânica (funções da vida vegetativa) e a perpetuação da
espécie (função da vida reprodutiva), coordenadas e centralizadas “pelo
trabalho do sistema nervoso” (p.2). A
esse conjunto de elementos e funções, Pizzoli denomina de base física da personalidade
ou, como pretende a título de “facilidade de estudo” (p. 2), de individualidade
física da personalidade.
A base psíquica da personalidade “é o resultado da atividade do sistema
nervoso – os elementos mais simples e primordiais que a compõe são as sensações
e as reações correlatas” (Pizzoli, 1899b, p.3).
Esses fenômenos psíquicos dizem respeito às manifestações das atividades
sensoriais das células que, especificando-se e agregando-se, constituem as três
funções psíquicas fundamentais – sentimento, inteligência e vontade.
Essas funções psíquicas
ou estado de consciência, são
separadas apenas por artifício didático, em pensamentos, sentimentos e
volições, uma vez que não são mais do que inumeráveis combinações dos mesmos
elementos funcionais que tendem a sistematizar-se – seja por agregação ou por
inibição recíproca – em atividade sintética. É dessa forma que as fases mentais
que constituem o lado intelectivo e afetivo do processo psíquico se reagrupam
em conjunto e formam a individualidade psíquica da personalidade, enquanto que
as fases mentais que constituem o lado volitivo, formam a individualidade moral
da personalidade” (Pizzoli, 1899b, p.3).
Conclui Pizzoli (1899b, p.3) que
a união ou síntese das três personalidades “forma aquilo que a psicologia
positiva denomina de personalidade humana que, sempre enquanto relação, deve ser
considerada como uma unidade – a unidade do Eu” .
Vamos encontrar um pouco dessa Psicologia, bem como muito dos conteúdos
dos cursos de Pizzoli, em Psicologia per
le scuole (Psicologia para a escola) de Sergi (1895). De qualquer maneira,
sua Psicologia ficava a dever ao estágio de desenvolvimento dessa ciência na
Itália de final do século XIX. Talvez
pela formação médica, a Psicologia de Pizzoli não conseguiu libertar-se do
corpo, mesmo para os padrões de seu tempo, apesar de seu trabalho ser coerente com
o conceito elementarista e genético de seu paralelismo psicofísico. É bem
verdade que, com o passar dos anos, as lições de Psicologia passaram a ter
outro feitio, com menor ênfase na influência fisiológica. Apesar de ser uma obra ao que parece coletiva,
as Nozioni di pscologia pedagógica (Noções
de psicologia pedagógica), contidas no Boletim do Instituto de Pedagogia
Experimental de Milão, em 1907, são prova disso: um capítulo dedicado à atenção
(definição, higiene da atenção, mecanismos, atenção voluntária e involuntária,
características, duração, poder de concentração, hiperpropessia, hipopropessia,
educação da atenção, a curiosidade, importância da atenção etc.), à memória
(poder de conservação, poder de evocação e reprodução, localização, reconhecimento,
tipos mnemônicos, repetição, educação da memória, etc.), à associação de idéias
(lei de associação mental por contigüidade e continuidade, associação mental
por semelhança, associação no pensamento voluntário, educação da associação de
idéias etc.), à imaginação (imagem, importância da imaginação, imaginação produtiva,
imaginação criativa na criança, leis do desenvolvimento da imaginação etc.) e à
vontade (mecanismos do ato voluntário, o sentimento e as ações psíquicas
volitivas, casos mórbidos de vontade, educação da vontade etc.) Afora isso, Pizzoli traçou uma trajetória em
torno do desejo de desenvolver instrumentos e de realizar cursos de formação
pedagógica. Ao que parece, não pretendeu
ser psicólogo. Era um usuário de
conceitos e princípios de Psicologia.
A Psicologia científica italiana tem uma história que nós, habituados a
crer que os livros de Boring retratam alguma coisa significativa da psicologia
mundial, nem mesmo somos capazes de imaginar.
Os livros de história da psicologia na Itália, restritos ao último
quartel do século XIX, até meados do século XX, somam um volume de nomes e
trabalhos expressivos, deixando claro que aquele país, no que diz respeito à
psicologia como um todo, esteve presente em situação contemporânea a tudo de
importante que marcou a história dessa ciência, desde seu nascedouro.
Pizzoli, então, não é um
representante da psicologia italiana, o que certamente não lhe tira o mérito de
ter dedicado uma vida inteira ao desenvolvimento científico da Pedagogia.
Conclusões
Estivemos expondo pontos do pensamento e obra de Pizzoli, até momentos
relativamente próximos a sua vinda à Escola Normal de São Paulo, esperando ter
contribuído com aqueles que, no presente ou futuro, desejam ampliar as investigações
históricas sobre o significado da ainda não plenamente conhecida experiência
paulista de 1914, onde Pizzoli esteve por poucos meses. Afinal, a idéia era exatamente essa –
permitir ao pesquisador brasileiro de história da psicologia conhecer um pouco
mais e melhor essa personagem que esteve entre nós, aos 51 anos de idade,
compartilhando sua experiência, mesmo que sabidamente tenha tido influência
pouco expressiva em nossa formação. Em
seu retorno à Itália, continuou marcando presença na história da educação
daquele país e sua obra certamente evoluiu além do ponto em que paramos, como
certamente evoluíram as concepções de Psicologia e Pedagogia, apesar de
dificuldades que encontrou pela vida pessoal e profissional, como relatam seus
biógrafos.
Notas
* Bacharel em Psicologia e
consultor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo – Fundação
Getulio Vargas.
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O. O futuro da pedagogia é científico. In:PIZZOLI, U. (Org) O laboratório de Pedagogia Experimental. São Paulo: Typ. Siqueira, Nagel & Comp, 1914.
p.3-24
Abstract
The publication presents a little of the
thought and work of Italian Ugo Pizzoli, personage of the history of the
Brazilian psychology. It provides
panoramic information on the history of the psychology in Italy and it locates
Pizzoli in the history of the scientific pedagogy of that country, in front of
the laboratory of experimental pedagogy of Crevalcore and Milan, in the last
decade of the century XIX and first of the century XX, before, therefore, of
his arrival to Brazil, happened in 1914, where it implanted a laboratory of experimental
pedagogy and it supplied courses of scientific pedagogy in the Escola Normal de
São Paulo
Keywords
Pizzoli, Italy, psychology, history, Brazil
Recebido em: 15/08/01
Aceito para publicação em: 04/10/01